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Globo provoca bolsonaristas com gays e travesti em novela

Escrita por um bi, 'A Dona do Pedaço' terá galãs vivendo enrustidos e atriz transexual na pele de rapaz que se transveste

29 abr 2019 - 10h08
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A guerra entre Jair Bolsonaro e o Grupo Globo ganhará novo round a partir de maio. A estreia do próximo folhetim das 21h vai certamente irritar o presidente.

Agno, Britney e Rock: a diversidade de orientação sexual será destaque no horário nobre da emissora líder
Agno, Britney e Rock: a diversidade de orientação sexual será destaque no horário nobre da emissora líder
Foto: Reprodução/Instagram e Divulgação/TV Globo

Escrita pelo autodeclarado bissexual Walcyr Carrasco, a novela abordará duas questões a respeito da diversidade sexual.

Referências de virilidade, Malvino Salvador e Caio Castro interpretarão "homens acima de qualquer suspeita" que mantêm um romance secreto.

Bem-sucedido, Agno (Malvino) é casado com Lyris (Deborah Evelyn). Seu mundo vira de ponta cabeça quando percebe o desejo por outro homem.

Boxeador pobre, Rock (Caio) tenta se dar bem na vida ao namorar Fabiana (Nathália Dill), que finge ser rica, porém, ele acabará apaixonado por Agno.

Essa trama pretende denunciar a hipocrisia social que obriga um gay ou bissexual a se passar por hétero a fim de evitar o preconceito e preservar a própria vida.

Outro personagem também vai orbitar em torno da discriminação sexual.

A atriz transexual Glamour Garcia será um rapaz que reaparece para a família como travesti, usando o nome Britney, e inicia um relacionamento sem contar ao namorado que é biologicamente homem.

A temática que contesta a heteronormatividade desagrada Bolsonaro e a maioria de seus apoiadores.

“O Brasil não pode ser País do mundo gay; temos famílias”, declarou o presidente durante café da manhã com jornalistas, na semana passada.

A teledramaturgia da Globo tem sido justamente uma vitrine da presença de homossexuais na sociedade.

Das 15 novelas das 21h produzidas pela emissora nesta década, 14 apresentaram personagens gays masculinos e/ou femininos.

A única exceção, Velho Chico (2016), foi escrita por um autor que se declara contrário ao ativismo gay nas novelas, Benedito Ruy Barbosa. “Odeio história de bicha”, declarou ele ao jornal Extra no lançamento da produção.

Muito antes da ascensão ao poder de políticos de direita, grupos conservadores já incentivavam boicotes à Globo por conta dessa abordagem progressista.

Agora, com o bolsonarismo em alta, prevê-se nova reação ruidosa a mais essa visibilidade LGBT+ no horário de maior audiência da televisão brasileira.

Apesar do crescente domínio da internet, a novela das 9 da Globo ainda possui imensurável poder de influência e mobilização na vida real. Ninguém fica indiferente a uma trama provocativa.

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