Globo se livra da obrigação de promover Bolsonaro todo dia
Em compensação, o presidente ganha vitrine importante na TV para seu governo graças a Silvio Santos
Nos últimos dias, uma notícia relevante pouco destacada na imprensa foi a reprovação na Comissão de Ciência e Tecnologia (CCT) do Senado Federal do projeto de lei que previa a criação de uma espécie de A Voz do Brasil na TV aberta. A proposta partiu da senadora Soraya Thronicke (PSL-MS), apoiadora de Jair Bolsonaro.
A ideia era obrigar as principais redes de TV a exibir diariamente 18 minutos de notícias a respeito dos três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), na faixa nobre da programação (das 19h às 22h), em horário a ser escolhido por cada canal.
Inicialmente, a iniciativa foi interpretada como artimanha para beneficiar Bolsonaro. Nos 6 minutos reservados à Presidência, ele poderia dizer o que bem entendesse. A senadora negou tal intenção. "Não será o presidente falando o tempo todo. Serão notícias dos três poderes. O que precisamos é de informação isenta."
O projeto de lei causou arrepios na cúpula da Globo. Temeu-se a possibilidade de o presidente usar o espaço diário em rede nacional para rebater as notícias contrárias a ele veiculadas nos telejornais da emissora. Houve ainda preocupação com a queda de faturamento por conta do tempo a menos para a exibição de comerciais.
A ABERT (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) fez intenso trabalho nos bastidores do Congresso para convencer a relatora do caso, senadora Eliziane Gama (PPS/MA), a rejeitar a proposta. Por fim, ela ficou do lado dos canais de TV. "Os Poderes da República já contam com geradoras próprias de televisão em canais abertos e operadoras de TV paga. A implantação do novo programa demandaria mais recursos, além de reduzir as receitas atuais, gerando desemprego no setor", alegou.
Dois dias depois da decisão no Senado, Jair Bolsonaro recebeu ótima notícia: ganhará uma atração no SBT. Silvio Santos ordenou a volta do 'Semana do Presidente', programete dominical sobre as atividades do ocupante do Palácio do Planalto. Criado durante a fase final do regime militar, foi exibido até a conclusão do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso.
Silvio Santos, que ganhou a concessão da então TVS durante a presidência do general João Figueiredo, sempre gostou de paparicar os presidentes. Hoje, o apresentador e dono do SBT mantém relação amistosa com Bolsonaro. Até o recebeu em sua mansão, em São Paulo, para um churrasco.
Já a relação do presidente com a Globo continua tensa. Diante das câmeras, Bolsonaro não deixa passar nenhuma oportunidade de criticar o jornalismo do canal. Ele acredita ser perseguido pela linha editorial do Grupo Globo, o poderoso conglomerado de comunicação da família Marinho.