Grazi e Grangheia formam melhor casal de novela no momento
Luciane e Hércules garantem o alívio cômico ao clima denso de 'A Lei do Amor'
Experimentos dramatúrgicos à parte, a força motriz de uma boa novela ainda é o amor de um casal e suas intercorrências.
O telespectador anseia uma trama marcada por romantismo, erotismo, alguns obstáculos e, obviamente, um final feliz. Nos últimos anos, poucas novelas apresentaram casais capazes de estimular a torcida do público.
Em alguns casos houve falta de química entre os intérpretes. Certos enredos inviabilizaram qualquer verossimilhança amorosa. O noveleiro – cada vez mais difícil de ser seduzido – respondeu com indiferença ou rejeição explícita.
‘A Lei do Amor’ apresenta um exemplo de romance bem-sucedido, ainda que distante do estereótipo do casal clássico. E essa distorção é justamente o que dá graça a Luciane e Hércules.
Ela, uma ex-garota de programa destemida e ‘sexy sem ser vulgar’. Ele, um herdeiro com escassez de talentos e excesso de defeitos. Juntos, presenteiam o telespectador com doses generosas de comédia leve.
Finalmente respeitada, Grazi Massafera abre uma necessária fenda solar numa novela soturna. Debochada, sua personagem lida com a própria burrice de maneira perspicaz.
A beleza e a sensualidade da atriz são complementos oportunos – e não a atração principal – de sua inspirada atuação. E há o fator carisma. Este, impossível de ser forjado, sobra em cena.
Grangheia equilibra-se num personagem híbrido: meio vilão, meio vítima, meio dramático, meio bufão. E ainda há, nas entrelinhas, a personificação crítica do político de ocasião, do burguês acéfalo e do ‘jeitinho brasileiro’.
Juntos, Luciane e Hércules formam uma engrenagem perfeita. Mérito de atores sagazes que transformaram dois coadjuvantes no melhor casal não apenas do folhetim como da atual teledramaturgia da Globo.
Sagacidade esta aliada ao esforço. Grazi estudou com afinco para aprender a atuar. E, no meio artístico, enfrentou barreiras dolorosas como a desconfiança e o desprezo.
Danilo, com formação na EAD (Escola de Arte Dramática da USP), tem uma carreira consolidada no teatro. Antes de saborear a popularidade na TV dedicou-se a Shakespeare, Tchecov, Ionesco, Gil Vicente, Nelson Rodrigues e outros bons professores.
Com os dedicados e talentosos Massafera e Grangheia, o telespectador se distrai e até ri – reação desejável cada vez mais rara em quem busca na novela o escapismo da realidade draconiana.