Grite, xingue, mas admita: o BBB ainda é o melhor reality
Edição atual produz mobilização histórica de pessoas e dá novo fôlego ao tão criticado formato de programa
No Paredão que eliminou Guilherme e fortaleceu Pyong houve recorde de 416 milhões de votos. É como se cada habitante do Brasil tivesse votado duas vezes. No segundo turno das eleições de 2018, Jair Bolsonaro foi eleito presidente por 57,8 milhões de eleitores. Guilherme acabou excluído da competição com quatro vezes mais votos, cerca de 233 milhões. Essas comparações, ainda que esdrúxulas, servem para ressaltar a força de engajamento do Big Brother Brasil. Nunca se viu nada parecido na televisão.
O reality show com formato da produtora Endemol Shine teve altos e baixos nos últimos anos. A edição de 2019, vencida por Paula von Sperling, se revelou catastrófica em audiência e na repercussão negativa. A decadência colocou em dúvida a tal edição histórica pretendida pela Globo este ano. Depois de um início morno, o BBB20 engrenou e passou a oferecer aquilo que o público espera: entretenimento baseado em rivalidade, estratégia, romance, vilania e surpresas.
Novela da vida real, com a estereotipação de pessoas que qualquer um de nós conhece no dia a dia, o BBB tem o mérito de tirar o telespectador da apatia. Impossível assistir ao programa sem se posicionar a favor ou contra os competidores. Conseguir esse envolvimento emocional se tornou difícil na TV contemporânea. Com profusão de acontecimentos, a atração voltou a pontuar positivamente no Ibope e incitar as redes sociais. Até quem diz odiar e nem ver o Big Brother lê, opina, reverbera.
O mais interessante nesse produto de sucesso lançado em 1999, na Holanda, é lidar com comportamentos e sentimentos. No auge da era tecnológica, quando interagimos com máquinas e nos tornamos um tanto robotizados, o BBB resgata aquilo que cada pessoa tem de demasiado humano. Em certos momentos nem lembramos que é uma competição por dinheiro — parece tão somente uma arena onde se briga pela própria sobrevivência.
Passamos a fazer parte de um circo eletrônico que induz a plateia a rir, se emocionar, ficar irritada, refletir e decidir. Ainda não surgiu outro programa de convivência capaz de mexer tanto com a gente. Se não descambar, essa poderá realmente ser uma edição inesquecível.