Imitação de Bolsonaro na TV desafia o politicamente correto
Personagem do Carioca no ‘Pânico na Band’ rompe a autocensura que afeta o País
A censura acabou oficialmente no Brasil em 3 de agosto de 1988, data da votação do texto da Constituição que extinguiu a prática odiosa imposta pelo regime militar durante 21 anos.
Mas, neste momento, o País sofre com uma espécie de censura branca a partir do patrulhamento do politicamente correto nas artes, na publicidade e até no jornalismo.
O temor de ser mal interpretado e receber acusação de machismo, racismo, homofobia e reacionarismo faz muitos autores, atores e humoristas adotarem a autocensura para evitar hostilidade e eventuais processos.
Por isso, quando alguém rompe essa tóxica película de protecionismo, todos saem ganhando. É o caso de Márvio Lucio, o Carioca do ‘Pânico na Band’.
Um dos poucos bons momentos do programa é a imitação que ele faz do deputado federal e presidenciável Jair Bolsonaro.
‘Mitadas do Bolsonabo’ desafia o politicamente correto ao promover pelo humor a imagem de um político acusado de debochar dos direitos humanos e representar um retrocesso ideológico.
Você pode detestar Bolsonaro, mas há de concordar que ele tem direito à mesma liberdade de expressão de qualquer outra pessoa.
Os excessos eventualmente criminosos de sua verborragia poderão ser discutidos, julgados e punidos na esfera jurídica. É assim que funciona a democracia.
A edição desta semana da ‘Veja’ questionou Carioca a respeito de sua imitação de Bolsonaro. Estaria o ‘Pânico na Band’ promovendo o polêmico político?
“Sou humorista e minha preocupação é tratar de personagens que são assunto. Sou atento aos fatos. Se eu disser que ele é um político irrelevante, estarei mentindo”, respondeu Márvio. “O humor é uma crônica, e eu sou um cronista contemporâneo.”
Uma das utilidades do humor é incomodar para fazer pensar. Gênios brasileiros do gênero, como Chico Anysio, Jô Soares e Agildo Ribeiro, sempre recorreram ao deboche para realizar críticas sociais e desconstruir políticos em destaque.
Não importa se o personagem é de direita ou esquerda. A relevância está na liberdade de criticá-lo e contestá-lo e, dessa maneira, despertar o riso – e até uma reflexão.
Pesquisas do Datafolha e do Ibope colocam Jair Bolsonaro no segundo turno da eleição presencial de 2018. Ignorá-lo agora é tão inútil quanto pouco inteligente.
Quanto mais a TV discutir o que ele pensa e diz – usando para isso o humor e o jornalismo –, mais esclarecimento prestará ao telespectador-eleitor.
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