Impossível viver o 28 de dezembro sem lembrar Daniella Perez
Morte da jovem estrela da TV marcou a história da crônica policial, do jornalismo, da teledramaturgia e da Justiça.
Em 28 de dezembro de 1992, o Brasil parou diante da TV para acompanhar a cobertura do assassinato de Daniella Perez. A atriz, então com 22 anos, era destaque na novela das 21h da Globo De Corpo e Alma, escrita por sua mãe, Gloria Perez. A personagem Yasmin exalava carisma e inspirou milhões de brasileiros a batizar sua filha com o mesmo nome de origem persa.
A morte brutal da artista, atacada após sair dos estúdios onde o folhetim era gravado, ganhou capítulo especial na crônica policial brasileira. Foi um crime premeditado, com requintes de crueldade, sem direito à defesa da vítima e por motivo torpe. A imagem do corpo de Daniella estirado num matagal, na zona oeste do Rio, jamais saiu da memória das pessoas que acompanharam o caso.
Os assassinos foram Guilherme de Pádua, que atuava em De Corpo e Alma e iniciava uma trajetória como galã, e a mulher dele, Paula Thomaz, grávida à época. Foram presos, julgados, condenados, cumpriram parte da pena e hoje estão livres. A autora Gloria Perez mobilizou o País em campanha para transformar o homicídio qualificado em crime hediondo. Foram colhidas quase 1,5 milhão de assinaturas. A alteração na lei ocorreu em 1994.
A morte de Daniella, considerada uma revelação como atriz, marcou a teledramaturgia. Uma semana depois de enterrar a filha, Gloria Perez voltou a escrever os capítulos e incluiu na trama críticas à morosidade da Justiça brasileira e à inadequação do Código Penal, que não previa penas exemplarmente pesadas a quem tirasse a vida de alguém.
O jornalismo também foi afetado com o homicídio da atriz. Passou-se a dar mais atenção à violência contra as mulheres. A pauta entrou no radar dos produtores de reportagens. Vinte e sete anos depois daquele assassinato com repercussão midiática, os telejornais exibem quase diariamente casos de feminicídio com final igualmente trágico a tantas e tantas brasileiras.
Relembrar aquele episódio dramático é mais do que uma justa homenagem à atriz. Trata-se de um exercício de cidadania: usa-se esse exemplo famoso para alertar sobre o desrespeito à vida e a importância da punição aos criminosos. Acontecem cerca de 13 homicídios de mulheres por dia no Brasil. Não podemos aceitar essa calamidade, assim como jamais esqueceremos Daniella Perez.