'JN' cutuca Bolsonaro pela enésima vez sobre aglomeração
Guerra entre presidente e o principal telejornal da Globo parece que não terá trégua em 2021
Quem assiste regularmente ao 'Jornal Nacional' já viu uma mesma notícia ser veiculada dezenas de vezes. William Bonner e Renata Vasconcellos destacam as aglomerações promovidas por Jair Bolsonaro ao fazer aparições em público. O texto lido pelos âncoras invariavelmente ressalta que o presidente ignora a recomendação de distanciamento social e o risco de contaminação pelo novo coronavírus.
Na edição de sexta-feira (1), mais uma vez a pauta ganhou espaço no telejornal de maior audiência da televisão brasileira. Foi exibido o mergulho de Bolsonaro de um barco até uma praia, no litoral paulista, onde confraternizou com apoiadores que se banhavam no mar. As imagens mostraram uma muvuca de gente em torno dele - a maioria sem máscara, como o próprio chefe do Executivo. "Durante os minutos em que se formou a aglomeração, o presidente fez exatamente o contrário do que os médicos têm pedido insistentemente à população", informou Renata.
Notas e matérias semelhantes foram veiculadas no 'Jornal Nacional' com Bolsonaro gerando agrupamento de pessoas em outros locais, como na portaria do Palácio da Alvorada, na frente do Palácio do Planalto, em uma padaria de Brasília, na Ceagesp de São Paulo, em uma blitz da Polícia Rodoviária Federal no DF, em uma casa lotérica, em um canteiro de obras de um hospital de campanha em Goiás, entre outros locais. A abordagem do telejornal sempre foi de reprovação ao negacionismo do presidente em relação às orientações das autoridades sanitárias para a prevenção da covid-19.
A insistência do 'JN' em criticar - abertamente ou de maneira menos literal - o comportamento de Bolsonaro serve de combustível para a antiga peleja entre a Globo e o político conservador, notório crítico do jornalismo do canal e do clã Marinho, dono do Grupo Globo. Em contrapartida ao recorrente conteúdo desfavorável, o presidente disparou vários xingamentos contra a emissora desde o início do mandato. "TV Funerária", "lixo", "nojenta", "jornalismo podre", "corrupta", "imprensa porca", "canalhas", "patife" e "imoral" foram alguns deles.
A Globo não sinaliza um cessar-fogo. Tem dado cada vez mais espaço a epidemiologistas indignados com o desempenho do governo federal na compra de vacinas e insumos e na organização do calendário nacional de vacinação. O 'Jornal Nacional' salientou, mais de uma vez, que o Brasil ficou para trás na estratégia de imunização da população na comparação com outros países. Pelo tom incisivo da cobertura, Jair Bolsonaro precisará renovar o vocabulário de impropérios com a inimiga Globo.