‘JN’ rechaça Bolsonaro após deboche da tortura de Dilma
Telejornal dá destaque a críticas de várias autoridades sobre polêmica declaração do presidente
Na edição de terça-feira (29), o ‘Jornal Nacional’ dedicou 5 minutos — duração maior do que a de matérias corriqueiras — para informar as reações de repúdio a uma ironia feita por Jair Bolsonaro a respeito da tortura sofrida pela ex-presidente Dilma Rousseff na ditadura militar. No dia anterior, na saída do Palácio da Alvorada, ele foi instigado por um apoiador a comentar denúncias de violência praticada contra opositores do regime na época.
“Os caras se vitimizam o tempo todo: ‘fui perseguido’. Teve um fato aí, esqueci o nome da pessoa, mas é só procurar na internet, vai achar com facilidade, que a Dilma foi torturada e que fraturaram a mandíbula dela. Eu falei: ‘traz o raio-X para a gente ver o calo ósseo’. Olha que eu não sou médico. Até hoje estou aguardando o raio-X”, disse Bolsonaro, admirador declarado do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, participante das sessões de tortura de Dilma.
O ‘JN’ exibiu a resposta da ex-presidente e trechos de notas críticas a Bolsonaro divulgadas por outros dois ex-chefes de Estado do Brasil, Lula e Fernando Henrique Cardoso, além das manifestações igualmente contundentes do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e dos principais candidatos à sucessão dele, deputados Baleia Rossi e Arthur Rossi, e também do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz. Ao final da matéria, Bonner disse que o Palácio do Planalto não havia respondido às postagens de reprovação a Bolsonaro.
Ainda que não tenha emitido opinião oficial, a Globo evidenciou a desaprovação ao presidente. O espaço dedicado ao assunto e as mensagens escolhidas para exibição falaram por si. Sempre que vem à tona, o tema ditadura militar opõe o jornalismo do canal e o presidente, ex-capitão do Exército. Um episódio famoso aconteceu em 28 de agosto de 2018. Ao ser sabatinado na bancada do ‘JN’, o então candidato à Presidência constrangeu Bonner e Renata Vasconcellos ao repetir uma declaração de Roberto Marinho, fundador da emissora, em apoio à ditadura. “Roberto Marinho foi um ditador ou um democrata?”, questionou Bolsonaro.
Minutos depois, antes de encerrar aquela edição tensa, Bonner fez um esclarecimento. Confirmou a frase de Roberto Marinho a respeito da “revolução de 1964” (nas palavras do próprio dono da Globo, inaugurada no ano seguinte), relembrou que o Grupo Globo fez um editorial em 30 de agosto de 2013 “em que reconheceu que o apoio editorial ao golpe de 1964 foi um erro” e ressaltou o valor da democracia.