Jornalista que enganou Diana também traiu Michael Jackson
Martin Bashir usou documentos falsos com a princesa e manipulou declarações do Rei do Pop
Qual o preço da vaidade? No caso de Martin Bashir, custou caro: a credibilidade como jornalista. Em busca de autopromoção e audiência na TV, ele mentiu, falsificou, difamou, traiu a confiança de fontes e entrevistados. Se um dia foi considerado um grande repórter, hoje é apontado como um mau exemplo na profissão.
A BBC, rede pública de televisão do Reino Unido, foi envolvida em um escândalo resultante da falta de ética do jornalista. Em 1995, ele forjou provas de que a princesa Diana estava sendo espionada e caluniada por funcionários da família real para convencê-la a conceder uma entrevista exclusiva. Sem desconfiar da armação, Diana aceitou falar.
Suas confissões a Martin Bashir a respeito dos conflitos no casamento com o príncipe Charles e a infidelidade de ambos chocaram os súditos da rainha Elizabeth e repercutiram em todo o planeta. Aquela edição histórica do ‘BBC Panorama’, assistida por 20 milhões de britânicos, precipitou o divórcio dos pais de William e Harry.
Agora, 25 anos depois, a BBC abriu investigação interna a fim de comprovar o uso de documentos falsos e narrativas inventadas pelo repórter. O irmão da princesa, conde Charles Spencer, exige que o canal peça desculpas públicas. Ele é lembrado por ter dito, no funeral de Diana, que a imprensa que a perseguia tinha “sangue nas mãos” em razão de sua morte trágica.
Ex-presidente da BBC, lorde Michael Grade declarou que há “nuvens negras pairando sobre o jornalismo” da tradicional emissora, referência mundial de jornalismo correto. O atual diretor-geral do canal, Tim Davie, afirmou “levar muito a sério” a denúncia. “Queremos chegar à verdade”, anunciou. Martin Bashir ainda não foi ouvido porque se afastou da BBC para tratar a infecção pelo novo coronavírus.
O prestígio internacional que o jornalista conseguiu ao entrevistar Diana foi fundamental para que ele se aproximasse de outra figura midiática, Michael Jackson. Amigo da princesa, o cantor aceitou ser acompanhado por Bashir, que se dizia confidente de Diana, ao longo de oito meses. Acreditou se tratar de um documentário realista sobre o que ele era e pensava.
Em fevereiro de 2003, quando ‘Living with Michael Jackson’ (‘Vivendo com Michael Jackson’) foi exibido na emissora britânica ITV e no canal americano ABC, os fãs ficam chocados. Martin Bashir reforçou a imagem de um ídolo infantilizado, bizarro, pervertido e com estranha ligação emocional com crianças.
“Foi o maior desastre de relações públicas para Michael Jackson. Ele o mostrou como um pedófilo”, contou à imprensa o então empresário do artista, o alemão Dieter Wiesner. “Daquele dia em diante, acredito, Michael começou a morrer.” O cantor sucumbiu a uma overdose de medicamentos em junho de 2009, aos 50 anos.
Assessores e advogados acusaram Martin Bashir de descontextualizar declarações de Michael Jackson e criar uma narração sensacionalista. Sentindo-se mais uma vez traído e difamado, o artista caiu em depressão. Duas semanas depois, a Fox exibiu um programa em resposta ao controverso documentário.
“Michael Jackson Take Two: The Footage You Were Never Meant to See” (Michael Jackson, Segunda Tomada: A Gravação que Não foi Feita para Você Ver’, em tradução livre), mostrou cenas completas das entrevistas conduzidas pelo jornalista britânico a partir de material filmado pela assessoria do cantor. Mas o estrago estava feito: o conteúdo distorcido apresentado por Martin Bashir prevaleceu na memória de milhões de pessoas.