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Jeff Benício

Jornalistas antes bajulados estão horrorizados com Bolsonaro

Presidente ‘sem filtro’ dá fim à relação cordial e ao puxa-saquismo entre o Planalto e os repórteres de Brasília

22 dez 2019 - 11h31
(atualizado às 11h31)
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Bolsonaro não parece preocupado com o descontentamento da imprensa
Bolsonaro não parece preocupado com o descontentamento da imprensa
Foto: Marcos Corrêa/Presidência da República / Divulgação

Plagiando um ex-presidente midiático, nunca antes na história deste País houve um político tão agressivo com a imprensa como Jair Messias Bolsonaro. Ele é mais incisivo até do que o último presidente do regime militar, general João Figueiredo, famoso pelos torpedos desconcertantes contra jornalistas.

Em sua guerra particular com os repórteres, Bolsonaro rompeu com a tradicional adulação nos bastidores do poder e diante das câmeras. Seu contato com os representantes da mídia é marcado por deboche ou virulência.

O episódio mais recente gerou ampla repercussão negativa, inclusive com destaque nas edições de sexta (20) e sábado (21) do 'Jornal Nacional'. Para se desviar de questionamentos incômodos, o presidente perguntou de maneira sarcástica a um repórter se este pretendia se casar com ele. Em outro momento, disse que um jornalista tinha "cara de homossexual terrível". Ao ouvir nova inquirição, disparou: "Pergunte para a sua mãe".

As reações ásperas de Bolsonaro com a imprensa são condenáveis por vulgarizar o decoro do cargo que ocupa e também por desrespeitar os jornalistas como pessoas e profissionais.

Não se cobra do chefe do Executivo uma artificial reverência, e sim uma relação ponderada com quem está ali com a missão de apurar notícias para informar a população – inclusive os eleitores do próprio presidente.

Em Brasília, onde está o epicentro da política brasileira, inúmeros ‘medalhões’ do jornalismo estão chocados com a belicosidade de Bolsonaro. Verdade seja dita: muitos deles estavam (mal) acostumados a ser bajulados por presidentes anteriores.

Neste caso, especialmente os jornalistas de TV eram recebidos com tapete vermelho. Havia teatral troca de afagos. A cúpula do governo estava sempre disponível como fonte de informações. Alguns veteranos da imprensa mantiveram contato direto e privilegiado com FHC, Lula, Temer e Dilma.

A chegada de Jair Bolsonaro mudou essa dinâmica. São poucos, bem poucos, os jornalistas que contam com a simpatia e a disponibilidade do presidente. Conseguir uma audiência particular com ele é raríssimo.

Sempre na defensiva, o homem mais poderoso do Brasil culpa a imprensa por fazer seu trabalho: averiguar, noticiar e cobrar explicações. Considera algumas empresas de comunicação – a exemplo do Grupo Globo – como um inimigo a ser combatido.

Falta a Jair Bolsonaro a compreensão de que pode usar a imprensa a seu favor. Bastaria atacar menos os repórteres e divulgar mais os feitos de seu governo, ter autocontrole ao responder perguntas espinhosas e saber desconstruir de maneira sagaz a arrogância de certos jornalistas.

Fácil não é, mas um presidente da República eleito no auge da era da comunicabilidade tem o dever de dominar essa estratégia para sobreviver como figura pública. E os repórteres agora sob fogo permanente precisam aprender a lidar com a cólera presidencial sem perder o foco no que interessa: a notícia.

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