Jornalistas da Globo sob forte pressão no estúdio e nas ruas
Apresentadores enfrentam jornadas mais longas de trabalho e até são hostilizados por se exercitarem ao ar livre
A cobertura da pandemia de covid-19 tem sido um desafio múltiplo a jornalistas da Globo e GloboNews. Exige mais horas de trabalho, o enfrentamento do medo de se contaminar fora de casa e nervos de aço para suportar invasão de privacidade e até hostilização em público.
O episódio mais recente, ocorrido na terça-feira (7), viralizou nas redes sociais e gerou manchetes em dezenas de portais: o âncora Marcelo Cosme, do GloboNews em Pauta e eventualmente do Jornal Hoje, foi filmado enquanto se exercitava na orla carioca.
O homem não identificado que registrou o flagrou disparou xingamentos de baixo nível. Acusou o jornalista de desrespeitar o distanciamento social apesar de pregar em seu programa de TV a prática recomendada pelo Ministério da Saúde. O autor das imagens não explicou por que também estava ali no calçadão enquanto a grande maioria dos moradores se mantinha em casa.
Na semana passada, o alvo foi Renata Ceribelli, repórter especial do Fantástico. Ela ficou na mira de um paparazzi ao fazer caminhada na Lagoa Rodrigo de Freitas, zona sul do Rio. Minutos antes havia colocado a hashtag #FicaEmCasa em um post numa rede social a fim de incentivar seus seguidores a cumprir a quarentena.
Após a repercussão das fotos, a jornalista publicou um esclarecimento online: "Não é errado praticar atividade física ao ar livre, desde que você esteja sozinho, longe de aglomerações, não apresente sintomas de covid-19 e não pertença a nenhum grupo de risco. Eu me enquadro nessa situação". Foi a mesma justificativa apresentada por Marcelo Cosme ao homem que o insultou enquanto gravava o vídeo com o âncora.
O clima nas redações, longe do olhar curioso das pessoas, não tem sido menos tenso. Os profissionais da Globo e GloboNews cumprem jornadas mais longas de expediente por conta do aumento das horas de jornalismo no ar e para cobrir os colegas afastados por serem do grupo de risco de complicações do novo coronavírus ou apresentarem sintomas da doença.
César Tralli, por exemplo, chegou a apresentar dois telejornais e ainda participar de outros dois programas jornalísticos em um único dia. Em um momento de descontração, William Bonner e Renata Vasconcellos admitiram cansaço ao final de uma edição do Jornal Nacional. No Estúdio i, da GloboNews, a comentarista de economia Miriam Leitão justificou uma troca de nomes aos efeitos na mente do excesso de trabalho.
Com o crescimento de audiência da Globo desde o início da cobertura da pandemia e a consolidação da GloboNews como líder no Ibope entre os canais da TV paga, os jornalistas de ambas as emissoras se sentem ainda mais estimulados (e pressionados) a gerar resultados a partir do sacrifício individual. Trata-se de um momento histórico para o jornalismo. Nenhum profissional de imprensa vai medir esforços para cumprir seu ofício. Até dá para compreender a 'saidinha' de Marcelo Cosme e Renata Ceribelli com a intenção de respirar um pouco de ar puro.