Jornalistas são os mais bloqueados por autoridades nas redes
Perfil do presidente Bolsonaro no Twitter já deu ‘block’ em vários repórteres de TV
No fim de dezembro de 2020, o correspondente da Globo em Londres, Rodrigo Carvalho, revelou ter sido bloqueado no Twitter por Jair Bolsonaro após questioná-lo sobre quando os brasileiros começariam a ser vacinados contra a covid-19.
Não foi um caso isolado. Desde o início do mandato, o presidente já bloqueou mais de 50 profissionais de imprensa, de acordo com relatório da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Ele foi responsável por mais da metade de todos os casos de ‘block’ contra jornalistas nesse período.
Esse índice está em consonância com dados do ‘Bolos Antiblock’, um monitoramento com status de protesto a respeito de censura imposta no Twitter por autoridades em exercício de mandato e também ministros de Estado e secretários de governo.
O ‘bolos’ do título se refere às receitas de bolo publicadas nos jornais no espaço de matérias censuradas na época da ditadura militar. Os leitores atentos sabiam que aquelas dicas de preparos de confeitaria eram, na verdade, denúncias de interferência do governo na redação.
Os dados do ‘Bolos Antiblock’ mudam conforme os registros de novos bloqueios. Na conclusão deste post, os perfis do presidente Bolsonaro e do vice, General Mourão, representavam 19.9% dos ‘blocks’. Ministros respondiam por 19.4% e deputados federais apareciam com 43.4%.
Entre as profissões mais bloqueadas, os jornalistas lideram o ranking com 18.9% do total de perfis impedidos de se manifestar on-line por ocupantes do poder público. Em seguida, advogados (9.4%) e publicitários (7.5%).
O portal perguntou a razão do ‘block’ a quem foi vítima de cerceamento. As principais respostas: “Fiz críticas à conduta ou administração do bloqueador” e “Manifestei opinião contrária”. Muitos não identificaram a razão da obstrução.
No Supremo Tribunal Federal há ações sobre a constitucionalidade dos bloqueios feitos por Bolsonaro. Em caso semelhante, ocorrido nos Estados Unidos, em 2019, o então presidente Donald Trump foi proibido pela Justiça de dar ‘block’ em tuiteiros.