Lucro cai, dívida sobe, mas Globo ainda tem fortuna em caixa
Quem esperava a falência da emissora em consequência dos cortes de verbas do governo deve estar decepcionado
A recente divulgação do balanço de 2020 da Globo Comunicação e Participações (GCP), maior grupo de mídia do Brasil, traz dados que, lidos fora de contexto, podem induzir a uma falsa impressão: a Globo estaria em dificuldades financeiras.
Houve, sim, queda relevante de receita e ganho. Na comparação com 2019, o faturamento do grupo caiu de R$ 14 bilhões para R$ 12,5 bilhões. O lucro despencou 77%, de R$ 752,5 milhões para R$ 167,8 milhões. A desvalorização do real em relação ao dólar fez a dívida da empresa, fixada na moeda americana, subir - estava em R$ 5,4 bilhões em dezembro passado, e era de R$ 3,7 bilhões no ano anterior.
Mas há dados positivos. O conglomerado do clã Marinho reduziu despesas (de R$ 10,6 milhões para R$ 9,49 bilhões) e o valor em caixa aumentou. A Globo fechou o ano passado com R$ 13,6 bilhões na conta, R$ 3,1 bilhões a mais do que tinha em 2019, e 2,5 vezes o valor total da dívida, dividida em parcelas que vencerão em 2025, 2027 e 2030.
Apesar da queda de 17% no faturamento com publicidade e do cancelamento de eventos que renderiam patrocínios milionários, a Globo está no azul, sem qualquer risco às operações e aos compromissos com os 14 mil colaboradores. A redução do número de contratados fixos (vários artistas com salários altos foram dispensados) e a concentração de estrutura das empresas do grupo no conceito ‘uma só Globo’ renderam economia relevante.
Os efeitos e as incertezas impostos pela pandemia de covid-19 - interrupção de gravações, adiamento de projetos, gastos com protocolos sanitários etc. - não interferiram no cronograma de investimentos. O Grupo Globo alocou R$ 5,5 bilhões na produção de conteúdo e na aquisição de tecnologias.
A drástica redução de verbas publicitárias do governo, concretizando promessa de campanha de Jair Bolsonaro, tirou algumas dezenas de milhões do faturamento da Globo (o mercado fala de R$ 400 milhões a R$ 500 milhões a menos entre 2019 e 2020), mas não colocou em risco o império televisivo fundado por Roberto Marinho.