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Majestosa, Chica Xavier foi a grande dama negra das novelas

Atriz soube se agigantar sem cena mesmo com as limitações de papéis coadjuvantes

8 ago 2020 - 14h29
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Poucas personagens da teledramaturgia brasileira exalaram tanto amor maternal quanto a escrava Bá de Sinhá Moça, da Globo. Na versão de 1986, o papel coube a Chica Xavier. A atriz morreu neste sábado (8), aos 88 anos, em consequência de um câncer.

Os papéis de escrava e empregada nunca representaram empecilho para o talento de Chica Xavier
Os papéis de escrava e empregada nunca representaram empecilho para o talento de Chica Xavier
Foto: Divulgação / TV Globo

Aquela negra sofrida, que teve o único filho tirado de seus braços e vendido pelo inescrupuloso barão da casa onde trabalhava, era a mãe postiça da protagonista, vivida por Lucélia Santos. Alimentou a sinhazinha com o leite materno que não pôde dar ao próprio filho.

Apesar da dor na alma, ela jamais se revoltou. Não se tratava do conformismo associado à submissão do negro domesticado do Brasil escravagista, e sim de resiliência e bondade. Com Bá, Chica Xavier fez o telespectador se comover e sentir compaixão. A atuação transcendia a tela da TV.

Assim fazia a nobre artista: pegava uma personagem supostamente pequena e a transformava em destaque da trama. Isso aconteceu inúmeras vezes em sua trajetória de 44 anos diante das câmeras.

Chica Xavier como Bá, ao lado de Lucélia Santos, em Sinhá Moça
Chica Xavier como Bá, ao lado de Lucélia Santos, em Sinhá Moça
Foto: Reprodução

Como esquecer a realista Marlene de Dancin´ Days (1978), a destemida Júlia de Fera Radical (1988), a protetora Inácia de Renascer (1993) e a sábia Mãe Setembrina de Duas Caras (2007)?

Por força de sua negritude e da estereotipação vigente na televisão, a atriz fez incontáveis papéis de empregada. Contudo, o que seria limitador virava um desafio com resultado surpreendente. Abastecida de emoção e verdade, Chica Xavier entrava em cena e impunha seu talento.

Mais do que uma grande atriz, ela foi uma personalidade de valor imensurável na luta contra a discriminação racial na TV e na vida real. Fazia militância sem alarde, pautada por suas experiências de reação ao preconceito e pelas muitas vitórias em sua carreira exemplar.

Quase uma década atrás, em entrevista para a TV Boa Vontade, dona Chica Xavier — uma das últimas grandes damas da teledramaturgia nacional — revelou o segredo da vida feliz. "Amor. A base de tudo para mim é o amor. Amor entre amigos, amor entre colegas, amor de família. Se você conseguir gerar amor, sem depender do laço de sangue, é a coisa mais maravilhosa que existe."

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