Matérias sobre Bolsonaros mostram que revistas estão vivas
Presidente diz que parte da mídia é sua "grande inimiga" após reportagens citarem parentes dele
No final de agosto, a Veja trouxe matéria de capa a respeito do paradeiro de Fabrício Queiroz, ex-assessor do então deputado estadual (e hoje senador) Flávio Bolsonaro.
O ‘caso Queiroz’ envolve movimentação suspeita de 1,2 milhão de reais envolvendo o gabinete do filho mais velho do presidente, o ‘Zero 1’. Esse escândalo produz incômodo e ira no líder do clã Bolsonaro.
Uma reportagem da edição desta semana da ‘Época’ (com chamada na capa) provocou reação igualmente colérica no presidente, que permanece internado em São Paulo.
O repórter João Paulo Saconi fez sessões on-line de coaching com a psicóloga Heloísa Wolf, mulher do deputado federal Eduardo Bolsonaro, o ‘Zero 03’. Em seu relato, o jornalista revela comentários da nora do presidente a respeito da intimidade em família e de política.
Indignado, Jair Bolsonaro disparou contra os veículos de comunicação em suas redes sociais. “Nossa inimiga: parte da GRANDE IMPRENSA. Ela não nos deixará em paz. Se acreditarmos nela será o fim de todos”, postou. As mensagens foram repercutidas pelos principais portais de notícias do País e mobilizam milhares de apoiadores dos Bolsonaros.
Essas duas reportagens investigativas serviram para mostrar que a imprensa escrita sobrevive, apesar da situação financeira difícil.
O Brasil tem quatro grandes revistas semanais: ‘Veja’ (fundada pela Editora Abril em 1968), ‘Época’ (lançada pela Editora Globo em 1998), ‘Carta Capital’ (mantida pela Editora Confiança desde 1994) e ‘Isto É’ (da Editora Três, em circulação há 43 anos).
Assim como os jornais, as revistas enfrentam crise de longa data. A tiragem da versão em papel tem despencado ano a ano por conta da retração na venda em bancas e do custo da matéria-prima. A salvação do setor tem sido o aumento do número de assinaturas digitais.
Publicação mais influente, ‘Veja’ já teve circulação com mais de 1 milhão de exemplares impressos. Hoje, sai de sua gráfica menos da metade.
Matérias de impacto como a do paradeiro de Queiroz e a do contato direto com a nora do presidente ressaltam o papel das revistas na busca por informações exclusivas – os ‘furos’, no jargão jornalístico.
Com redações cada vez mais enxutas e verba reduzida, os principais veículos de imprensa têm dificuldade em produzir reportagens que exigem dedicação exclusiva de repórteres por um tempo maior. Uma boa apuração não é barata nem pode ser feita às pressas.
Por isso, quando conseguem publicidade espontânea – como nos casos de ‘Veja’ e ‘Época’ nos últimos dias – ganham também um fôlego extra na luta diária para manter a relevância e garantir a sobrevivência diante do massacre imposto pela mídia digital.
Jair Bolsonaro dá contribuição valiosa às publicações tradicionais que ele tanto despreza: sua presidência é uma fábrica ininterrupta de notícias bombásticas.