Nicette era espírita atuante: “A vida não termina no túmulo”
Atriz morta aos 87 anos por covid-19 orava pela alma do marido Paulo Goulart e tinha certeza do reencontro espiritual com ele
Nicette Bruno dizia ser uma mulher com “consciência e fé”. Procurava enxergar a vida com realismo, apoiada em sua religiosidade. Foi uma das mais famosas divulgadoras do Espiritismo no Brasil. Falava da doutrina difundida pelo francês Allan Kardec (1804-1869) nas entrevistas. “A vida não começa no berço e não termina no túmulo”, afirmou em entrevista à TV Mundo Maior, da Fundação Espírita André Luiz. “Há continuidade do espírito, de conhecimento e realização.”
O contato com o kardecismo começou ainda na infância, quando a pequena Nicette ouvia a avó comentar sobre os ensinamentos do Dr. Bezerra de Menezes, um dos mais conhecidos mentores do Espiritismo. Quando se casou, ela e Paulo Goulart receberam orientações de outro mestre desencarnado, Dr. Leocádio José Correa, para conciliar a trajetória terrena com a evolução espiritual. “Estudamos a doutrina em sua forma científica, filosófica e religiosa”, contou.
O ator morreu aos 81 anos, de câncer, em março de 2014. A perda de seu companheiro por 62 anos não abalou a fé de Nicette. Pelo contrário: apegou-se ainda mais ao Espiritismo e dizia ter conseguido “uma paz interior de aceitação”. “Você sente a falta, a saudade. Isso vai comigo sempre. Mas não fica aquele desespero excessivo, de ficar para baixo. Eu procuro viver no melhor sentido para que inclusive essa minha energia se amplie e chegue até ele”, relatou a atriz à revista ‘Quem’.
Os dois formaram um dos casais mais carismáticos do universo artístico. Tive a oportunidade de visitá-los para uma entrevista no ano 2000, no apartamento onde moravam na Lagoa, zona sul do Rio. Paulo me recebeu de pijama e chinelos. Nicette logo trouxe café. O tempo todo estavam sorridentes, solícitos, empáticos. Eram os mesmos diante das câmeras e nos bastidores.
Na conversa à TV Mundo Maior, a atriz comentou também a respeito da ligação com o marido, com quem formou uma família feliz e um clã artístico. “Existia afinidade entre nossos espíritos. Havia uma cumplicidade entre nós, além do grande amor que nutríamos um pelo outro. Tenho certeza que essa reencarnação não foi a primeira que nos encontramos. Nós nos reencontraremos.”
Tal amor merece, realmente, seguir pela eternidade.