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“Ninguém queria o filme do petralha sobre o terrorista”

Wagner Moura comenta dificuldades para rodar Marighela, longa apoiado pela Globo que será exibido como minissérie na TV

7 fev 2019 - 14h14
(atualizado em 13/2/2019 às 16h14)
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Há obras artísticas que suscitam intensa mobilização – pró e contra ela própria – antes mesmo de seu lançamento. É o caso de Marighela, filme que marca a estreia de Wagner Moura na direção.

O longa sobre a trajetória de Carlos Marighela, fundador do grupo armado ALN (Ação Libertadora Nacional), terá lançamento mundial no Festival de Berlim, no próximo dia 15. Chegará às telas brasileiras em 18 de abril.

‘O filme registra os últimos cinco anos na vida do escritor, político e revolucionário brasileiro Carlos Marighella (1911-1969), que resistiu à ditadura militar e se tornou um inimigo caçado pelo Estado’ diz a apresentação oficial, em inglês, na página da Berlinale.

Wagner Moura defende a classe artística dos ataques da direita: “Discurso fascista”
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Foto: Reprodução/YouTube/Brasil de Fato

Para divulgar a produção, Wagner Moura, que faz questão de manter uma relação distante com a imprensa em geral, concedeu entrevista ao canal Brasil de Fato, pertencente ao site homônimo. O vídeo de 27 minutos está disponível no YouTube.

A primeira exibição pública de Marighela para espectadores brasileiros será um acontecimento social. “Prometi ao Boulos que vou estrear o filme num acampamento em São Bernardo do MTST”, revela Moura.

Guilherme Boulos é um dos líderes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto e foi candidato à Presidência na última eleição. São Bernardo do Campo, no ABC paulista, ganhou fama como berço político de Lula e do PT.

Wagner, nascido na Bahia tal qual Marighela, comenta os obstáculos para conseguir filmar.

“Eu sempre fui um artista identificado com a esquerda. Imagina... Era o petralha fazendo um filme sobre o terrorista. Ninguém queria se associar a isso, mesmo eu sendo um artista popular.”

A O2, produtora que tem entre seus sócios o diretor Fernando Meirelles, de Cidade de Deus, recebeu “respostas agressivas” de várias empresas consultadas a serem patrocinadoras.

“Esse foi um filme muito difícil de levantar dinheiro para ser feito. É uma produção grande. Apesar de todo mundo dizer que o filme usa a Lei Rouanet, não usa. Se o fizéssemos não haveria nenhum problema, mas não tem”, afirma.

O investimento inicial veio da Globo Filmes. A empresa tem feito acordo com várias produções cinematográficas.

Após a exibição nos cinemas, os filmes são editados para o formato de minissérie, em 3 ou 4 capítulos. Em janeiro, a TV Globo apresentou nesse esquema Elis, do cineasta Hugo Prata, lançado nas telonas em 2016.

Wagner Moura relata que, durante as filmagens de Marighela, a ideia de Jair Bolsonaro ser eleito presidente da República “era um negócio que ninguém achava que poderia acontecer, ainda era uma piada”.

Contudo, a equipe sentiu o avanço da onda conservadora no País. Além da dificuldade de conseguir dinheiro para o projeto, os profissionais receberam ameaças de agressão física e invasão do set.

“A gente já vivia um recrudescimento muito grande, uma polarização, o crescimento do discurso de direita”, explica o diretor.

Questionado a respeito do futuro da produção cultural brasileira, ele se mostra pessimista. “Triste o País que faz de seus artistas o inimigo do povo. É um discurso muito característico do fascismo”, diz.

“Os artistas, que historicamente são ligados a um pensamento mais progressista, são os primeiros a serem atacados. Aqui e agora somos os aproveitadores, os bandidos.”

Na entrevista ao Brasil de Fato, o artista formado em jornalismo define seu filme como um contraponto ao que chama de “maré de mediocridade” do momento e, especialmente, à relativização das ações violentas contra civis na ditatura militar (1964-1985).

“Nosso filme vem pra dizer que foi horrível, ruim, e teve gente com coragem de enfrentar aquilo. No filme, foi uma galera que escolheu uma forma radical de enfrentamento.”

Moura deixa evidente sua desaprovação ao armamento. “Talvez se eu vivesse 1964, a ditadura, não entraria pra luta armada. Sou uma pessoa que acha arma uma coisa horrível.”

No vídeo, o cineasta comenta a troca de Mano Brown, do grupo Racionais, por Seu Jorge para interpretar o personagem-título do filme, a crítica de que “empreteceu” Marighela e o significado político da obra.

“Todos sabemos a importância, politicamente, que esse filme tem aqui no Brasil. Mesmo que a gente tire esse elemento (político), se é que é possível, artisticamente o que a gente vivenciou filmando Maghirella foi uma das experiências mais profundas.”

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