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“Ninguém suporta pobre”: Maria de Fátima volta ainda melhor

Vilã de 'Vale Tudo' representa o brasileiro que busca fama e fortuna a qualquer preço

29 jun 2018 - 14h23
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Em resumo, Maria de Fátima deu um golpe na mãe e fugiu do sul para o Rio com o pouco dinheiro da família a fim de realizar o sonho de ser modelo para subir na vida. Sem escrúpulos e nenhum sinal de ressentimento, é uma sociopata com dose extra de egocentrismo.

Aversão à pobreza: Maria de Fátima se diverte ao debochar do Brasil e dos brasileiros
Aversão à pobreza: Maria de Fátima se diverte ao debochar do Brasil e dos brasileiros
Foto: TV Globo / Divulgação

A personagem de Vale Tudo, novela exibida originalmente entre maio de 1988 e janeiro de 1989 na então faixa das 20h da Globo, ganhou lugar privilegiado na galeria de grandes vilãs da teledramaturgia brasileira.

Gloria Pires tinha 25 anos quando fez o papel que mudou sua carreira e é citado como um dos melhores já vistos nas novelas. A recém-estreada reprise do folhetim no Canal Viva prova que a gananciosa Maria de Fátima continua a ser um tipo contemporâneo.

Ela representa o brasileiro sem ética nem empatia, capaz de passar por cima de tudo e todos para ficar rico e poderoso. Parece uma versão exagerada pela dramaturgia, mas basta conferir o noticiário para notar que é mais comum do que se imagina.

Uma característica marcante da jovem víbora é seu desprezo pela classe social da qual veio. “Ninguém suporta pobre”, costuma berrar nos embates com a mãe, Raquel (Regina Duarte). A certa altura da trama, ela reclama de voltar de uma viagem internacional: “Saudade do Brasil? Só se eu tivesse louca”.

Vale Tudo envelheceu em alguns aspectos – personagens usam máquina de datilografar, aparelho de telex e nem sabem o que é celular –, mas continua efetiva na crítica à sociedade de consumo e na obsessão quase coletiva por fama e fortuna.

A novela contrapõe as falhas de caráter de Maria de Fátima aos valores inegociáveis de Raquel, como a honestidade e a compaixão. Uma representa o Brasil do ‘jeitinho’ e da maracutaia, enquanto a outra simboliza o cidadão exemplar e o sonho de uma nação justa.

O final de Maria de Fátima em Vale Tudo é o retrato da impunidade brasileira: a personagem acaba casada com um nobre milionário, sem pagar por suas maldades e falcatruas. Mais atual, impossível.

(Escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, Vale Tudo é exibida no Viva às 15h30, com representação à 00h30.)

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