No duelo entre Temer e Globo, presidente já começa derrotado
Boatos de supostas ofensivas do Planalto contra a emissora dão tom novelesco à crise política
Nos últimos dias, sites registraram uma hipotética artimanha de Michel Temer para atacar sua nova inimiga número 1, a Globo, cujo jornalismo não tem poupado o presidente de críticas e contestações diárias.
Propaga-se que o peemedebista pretenderia pressionar a emissora com a cobrança de impostos atrasados e até a revisão dos termos da concessão – a atual autorização tem validade até 2022.
Aparentemente impassível à possibilidade de revanche, a Globo renova a artilharia contra o presidente a cada telejornal.
O estrago maior é feito pelo Jornal Nacional, que chega a atrair 7 milhões de telespectadores a cada noite somente na Grande São Paulo, principal área de aferição de audiência do Ibope e da GfK.
Esta semana, uma das reportagens mais contundentes do JN condenou a liberação de emendas bilionárias aos parlamentares da base aliada que Temer, que pode salvá-lo da acusação de corrupção passiva lançada pelo Procurador da República, Rodrigo Janot.
O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, chegou a se reunir com a cúpula da Globo (leia-se família Marinho) na tentativa de entender a postura agressiva do canal e conseguir uma cobertura mais leve dos imbróglios do presidente.
Ele voltou a Brasília com um recado claro a Temer: o Grupo Globo vê a renúncia como melhor solução para o Brasil. Desde então, o chefe do Executivo e a emissora líder do País não disfarçam a rivalidade.
Qualquer ação da Presidência contra a Globo seria imediatamente rechaçada por entidades representativas da mídia e dos jornalistas, no Brasil e no exterior.
Ainda que tenha irregularidades fiscais, a empresa não pode ser punida por sua linha editorial, de acordo com o princípio básico da liberdade de imprensa.
Caso isso acontecesse, o Brasil se aproximaria do caos visto na Venezuela, onde os governos de Hugo Chaves e Nicolás Maduro fizeram intervenções em emissoras de propriedade privada para impor censura ao telejornalismo.
Se a Globo deve à Receita Federal, que seja cobrada exclusividade por essa dívida, e não por recusar apoiar esse ou aquele projeto de poder.
Qualquer atitude interpretada como arbitrária daria contorno de ditador a Michel Temer. Punir a imprensa ‘inimiga’ é o primeiro passo para sujar a biografia política de quem se diz democrata e estilhaçar o Estado de Direito.
A Globo não é um ícone de imparcialidade jornalística, mas precisa ter a independência garantida por quem ainda nutre esperança de um futuro digno a este melodramático País.