No governo, Regina Duarte vive o drama das Helenas da TV
Atriz transformada em secretária de Cultura enfrenta a pressão de bolsonaristas e a insatisfação da classe artística.
'Cadê a Regina?' virou bordão e inspirou memes. Vários artistas têm lançado essa pergunta — com ironia e às vezes sob irritação — para questionar a falta de apoio oficial da secretária de Cultura Regina Duarte aos profissionais de TV, teatro, cinema e outros segmentos das artes.
Ela também enfrenta o chamado fogo amigo. 'Bolsonaro apoia pressão de aliados para que Regina Duarte deixe o cargo' informa a Folha de S. Paulo. A dificuldade da atriz em obter apoio da ala ideológica do governo seria o principal motivo de sua instabilidade no cargo e do vácuo com Bolsonaro. A eterna namoradinha do Brasil que 'noivou' com o presidente da República corre o risco de enfrentar um divórcio precoce e traumático.
De acordo com informações de vários veículos de comunicação houve amplo distanciamento entre o presidente e a secretária. Um exemplo simbólico da crise na relação entre os dois foi a ausência de Regina no pronunciamento de Bolsonaro no fim da tarde de sexta-feira (24), em Brasília, para rebater as acusações do demissionário Sergio Moro. Todos os ministros e principais secretários se colocaram ao lado do presidente para mostrar apoio ao chefe diante das câmeras. A atriz não apareceu. Estava em São Paulo, de onde tem despachado por videoconferência.
Na noite de terça-feira (28), ao chegar ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro comentou com apoiadores e jornalistas a respeito da ausência da secretária de Cultura no epicentro do poder, em Brasília. "Queria conversar mais com ela", disse. O diálogo também é a reivindicação de atores que trabalharam ou conviveram com Regina na TV Globo. Cobranças partiram de Christiane Torloni, Lima Duarte e Marcos Caruso, entre outros famosos. Por enquanto, a secretária não se pronunciou para acalmar os artistas contrariados com sua gestão em tempos de paralisação da produção cultural por conta da pandemia de covid-19.
Regina Duarte vive um impasse: agradar a Bolsonaro ou satisfazer a classe artística predominantemente ligada à esquerda? Essa situação lembra os dramas das três Helenas que ela interpretou em novelas do autor Manoel Carlos. As protagonistas de História de Amor (1995), Por Amor (1997) e Páginas da Vida (2006) estavam sempre no fio da navalha, sob forte estresse por conta de segredos e demandas. Sentiam-se divididas, fragilizadas, amarguradas. A presença de Regina Duarte no governo Bolsonaro ganhou elementos de um novelão.