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O dia em que teve feijoada com carne humana em novela cômica

Sequência inesquecível de ‘Xica da Silva’ faz sucesso ao ser relembrada quase 25 anos depois

19 dez 2020 - 12h34
(atualizado em 28/12/2020 às 17h15)
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Comendo com uma mão e lambendo os dedos, a vilã Violante (Drica Moraes) se rende ao banquete oferecido pela rival, a ex-escrava Xica (Taís Araújo), que trabalhou como cozinheira em sua na casa antes de virar sinhá. “Mas é muito bom... Que carne macia”, comenta.

“Gostou da feijoada?”, questiona com deboche a anfitriã. “Está muito saborosa”, responde a escravagista. “A carne é de Damião, seu informante”, revela Xica, referindo-se a um empregado delator interpretado por Romeu Evaristo.

A vilã Violante se deliciou com a carne de um empregado dedo-duro da impiedosa Xica da Silva
A vilã Violante se deliciou com a carne de um empregado dedo-duro da impiedosa Xica da Silva
Foto: A vilã Violante se deliciou com a carne de um empregado dedo-duro da impiedosa Xica da Silva / Fotomontagem: Blog Sala de TV

“Ao invés de colocar o porco, eu coloquei Damião na feijoada, por isso que a carne é assim, docinha. Come mais, dona Violante, come mais”, provoca. Enojada, a megera esboça uma reação furiosa, mas desmaia antes de tentar atacar sua inimiga.

Essa sequência kitsch e nonsense fez parte de ‘Xica da Silva’, novela de Walcyr Carrasco exibida na TV Manchete de setembro de 1996 a agosto de 1997. A trama foi protagonizada por Taís Araújo no papel-título da lendária escrava que virou ‘rainha’ após seduzir o Contratador João Fernandes de Oliveira (Victor Wagner), noivo de Violante.

A cena do diálogo sobre a feijoada com carne humana tem feito sucesso em posts no app TikTok, onde vários usuários divulgam trechos de cenas divertidas da teledramaturgia. As novas gerações se surpreendem com a criatividade de novelas antigas enquanto os mais velhos se empolgam ao relembrar tais momentos.

Em outro capítulo de ‘Xica da Silva’, a sinhá negra serviu um prato especial ao marido: uma salada com as orelhas de Clara (Adriane Galisteu), jovem tresloucada que teve um ‘casinho’ com o Contratador. Como se percebe, o canibalismo era trivial pelas bandas do Arraial do Tijuco, onde se passava a trama.

Aquela novela burlesca merece ser rememorada de tempos em tempos. Apresentou inúmeras ousadias, entre as quais ser estrelada por uma atriz iniciante negra, ter texto politicamente incorreto, falar de racismo no contexto histórico do Brasil com cenas explícitas de assédio moral e violência física, apresentar trama sobre homossexualidade e homofobia por meio do personagem Zé Mulher (Guilherme Piva).

O diretor Walter Avancini (1935-2001) injetou dose generosa de erotismo com várias cenas de nudez. O folhetim de época teve como base a história real da escrava mineira Francisca da Silva de Oliveira, transformada em mito após ser alforriada e passar a frequentar a corte local.

Contratado do SBT na época, Walcyr Carrasco escreveu a novela sob sigilo usando o pseudônimo Adamo Angel. A verdadeira identidade do autor só foi descoberta sete meses depois da estreia. Novela boa é assim: tem histórias curiosas até nos bastidores. Poderia ser reprisada ou ganhar remake.

A longa sequência na qual Xica da Silva recebe convidados esnobes para o banquete com carne humana:

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