O mundo em crise e a mídia preocupada com Harry e Meghan
Emissoras brasileiras fazem até enquete com os telespectadores a respeito do casal rebelde da monarquia britânica
A produção do Fantástico instalou uma mesa de chá das 5 na orla carioca para estimular anônimos a fofocar sobre as atitudes e o futuro do príncipe Harry e de Meghan Markle. O casal decidiu se afastar da família real britânica para viver de maneira independente. Assim como o Show da Vida da Globo, todos os telejornais e demais revistas eletrônicas da TV brasileira destacaram – às vezes de maneira exagerada – a polêmica suscitada pelos duques de Sussex.
O planeta vive um momento complexo: Estados Unidos e Irã em clima de guerra, o regime dos aiatolás sob ameaça de colapsar, Austrália em chamas, crise migratória na Europa, mudanças climáticas se intensificam e tantas outras situações dramáticas. No entanto, o telejornalismo acha importante abrir espaço para os mexericos em torno da rainha Elizabeth II. Seria na intenção de oferecer ao público um pouco de escapismo ou alienação?
A mídia em geral sempre teve fascínio por monarquias e dinastias. Gosta de retratar os nobres como se fizessem parte de uma novela da vida real. Mas é estranho ver, por exemplo, o Jornal Nacional dedicar uma saída de break (a chamada de notícia relevante do bloco seguinte) ao imbróglio protagonizado por Harry e Meghan. O principal e mais assistido telejornal do Brasil não teria um assunto menos frívolo a ressaltar?
A imprensa que tanto critica o excesso de bajulação em torno do clã Windsor é a mesma que o promove. O público que considera o regime monárquico ultrapassado e oneroso se contradiz ao não abrir mão de espiar a intimidade de quem vive em castelos e palácios. E o telejornalismo faz questão de ter seu momento TV Fama. O trepidante universo das celebridades disputa espaço com as manchetes sobre economia, política e violência. No fundo, parece ser mais urgente descobrir se Meghan Markle vai ou não atear fogo na realeza.