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Obsessão por fama e ‘vida fake’ podem causar depressão

Ser celebridade ou digital influencer não garante felicidade, afirma psicanalista João Nolasco

21 jun 2017 - 13h58
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Kim Kardashian West, Justin Bieber e Paris Hilton: juntos, eles têm quase 200 milhões de seguidores no Instagram e servem de inspiração para quem busca a fama na internet
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Foto: Reproduções/Instagram / Sala de TV

“Só há uma coisa no mundo pior do que se ver transformado em alvo de rumores. É não despertar rumor algum”, escreveu Oscar Wilde, autor da obra-prima ‘O Retrato de Dorian Gray’, que aborda o narcisismo, a inveja e o desejo de ser outra pessoa para se sentir melhor e mais feliz.

Hoje, milhões de indivíduos sonham com a fama na TV, no YouTube e nas redes sociais. Querem renunciar ao anonimato para se tornar celebridade e/ou digital influencer. Esperam, assim, ascender socialmente e serem vistos e tratados como ‘especiais’ num mundo que supervaloriza o status e as aparências.

Psicanalista João Nolasco afirma: “a obsessão por ‘ter’ ao invés de ‘ser’ é um dos maiores problemas da sociedade”
Psicanalista João Nolasco afirma: “a obsessão por ‘ter’ ao invés de ‘ser’ é um dos maiores problemas da sociedade”
Foto: ‘Psicanalista’: Divulgação / Sala de TV

O blog consultou o psicanalista João Nolasco, do Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica, Ciências Humanas e Sociais (IBRAPCHS), do Rio de Janeiro, a respeito dessa questão. Afinal, estamos condenados a obrigatoriamente recorrer aos holofotes para termos nossos valores reconhecidos e a inquietude existencial aplacada?

Muitas pessoas deixam de viver a própria vida para seguir a glamourosa vida de celebridades e digital influencers. O que isso pode gerar no emocional?

A busca desenfreada por este glamour é o resultado de um massacre hipnótico de uma classe produtora de fantasias. A negação da própria vida em torno da entrega desta fantasia pode conduzir o sujeito a diversas conflitivas, como frustrações e possivelmente a um processo depressivo. Interessante pensarmos que, na infância, quem nunca desejou ser uma fada, uma princesa, um super-herói, um astro de sucesso? No entanto, logo saímos deste conto de fadas e encaramos a realidade da vida, nos adequando e nos gratificando com o mundo real. Se o sujeito não vive sua vida real está fugindo de algo.

Qual o perigo de se dedicar tanto tempo a uma vida virtual em detrimento da existência real?

A vida é apenas uma. Sejam as questões virtuais ou reais, tudo é real para o sujeito que está a viver e produzir tais situações. Por mais que alguém crie um perfil falso ou tenhas amigos virtuais que nunca conheceu presencialmente, tudo é real. O grande risco é quando perdemos o controle ou o discernimento e, impulsionados por uma necessidade de preenchimento do vazio interior, nos isolamos das pessoas e encontramos no mundo virtual uma possibilidade de sermos aceitos e completar aquele vazio que, na verdade, jamais será preenchido dessa maneira.  

Construir uma ‘vida fake’ nas redes sociais só para impressionar amigos e seguidores pode desencadear problemas como a depressão e o transtorno de personalidade?

Sim, as redes sociais se apresentam como vitrines de lojas maravilhosas, onde aquilo que está exposto é sempre o melhor, o mais lindo. Esta dinâmica é adotada principalmente por pessoas que vivem isoladas de si mesmas. É o chamado ‘eu cego’, ou seja, o indivíduo que nunca consegue se ver realmente. Para sanar tal angústia, ele projeta um personagem idealizado que nunca é real. Para essas pessoas, a depressão é uma companhia constante.

Muitas pessoas são reféns da obsessão por fama e sucesso, pois acham que assim vão se tornar ‘especiais’ e mais felizes. Qual sua análise desse repúdio ao anonimato e à vida comum?

Trata-se de um vazio existencial deste sujeito. Hoje muitos vivem em busca de ‘ter’ para ‘ser’. Este é um dos maiores problemas da sociedade contemporânea. Ao vivermos essa obsessão pelo ‘ter’ automaticamente nos desconectados do ‘ser’. Fugimos totalmente de nós mesmos, dos princípios reais e dos valores familiares que nos foram passados. Viver feliz de forma incondicional, sendo famoso ou anônimo, é uma busca contínua da compreensão da própria existência.

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