Pela 3ª vez, Bolsonaro é o personagem do ano na TV
Presidente atrai as câmeras e gera audiência ao polemizar contra a Globo e a imprensa em geral
Pelo terceiro ano, Jair Bolsonaro foi a figura pública de maior destaque na mídia nacional. Poderia pedir música no ‘Fantástico’, mas o presidente jura não assistir à Globo. Verdade ou fake news?
Desde a posse, ele gera mais manchetes do que atores de novelas, estrelas de cinema e influenciadores de sucesso. É uma máquina com produção ininterrupta de notícias.
Trecho de um post a respeito em 31 de dezembro de 2019: “Nunca antes um presidente foi tão acessível no dia a dia. Jamais um mandatário da República se colocou tanto tempo diante de câmeras e microfones”.
O capitão bate no peito ao dizer que se elegeu graças às redes sociais, porém, não dispensa o alcance gigantesco da boa e velha televisão. Agora, com engajamento em queda na internet, ele sabe da importância da TV para sua sobrevivência política.
As declarações polêmicas, muitas vezes ditas no cercadinho ocupado por sua claque diante do Palácio do Planalto, ganham espaço relevante nos telejornais. Marketing político misturado com autopromoção.
Ironicamente, ele concede poucas entrevistas ao principal veículo de comunicação do País. “Falo só com 4 jornalistas”, disse em live. Um deles é Augusto Nunes, da Jovem Pan News TV. O presidente se tornou garoto-propaganda da emissora simpática à direita.
Outros propagadores bolsonaristas na tela são Ratinho (SBT), Sikêra Jr. e Luís Ernesto Lacombe (RedeTV!). Entre os donos de canais, ele conta com o apoio declarado de Silvio Santos (SBT), Marcelo de Carvalho (RedeTV!) e Edir Macedo (Record TV).
Em setembro, Bolsonaro acenou com a possibilidade de conversar com sua arqui-inimiga Globo. “Se quiser uma entrevista ao vivo, tô à disposição. Gravar pra vocês, aí fica difícil”, propôs. Foi ignorado.
Nos últimos 36 meses, testemunhamos a guerra de nervos entre o homem mais poderoso da República e a emissora líder no Ibope. De um lado, xingamentos, deboche e ameaça velada contra a concessão do canal. Do outro, a cobertura implacável dos erros e omissões do governo.
O presidente e a mídia mantêm uma relação que se retroalimenta: ele ataca os jornalistas que, por sua vez, o criticam de volta. No fim, as duas partes lucram, já que atraem a atenção do público e produzem audiência entre si.
A imprensa está ciente de que Bolsonaro impulsiona o negócio, assim como Donald Trump garantiu por quatro anos um bom desempenho para o jornalismo nos Estados Unidos. Quanto mais controvérsia, melhor: mais TVs ligadas e maior engajamento on-line.
Os comentaristas de canais de notícias como GloboNews e CNN Brasil se abastecem diariamente da matéria-prima gerada por Bolsonaro. Âncoras como William Bonner, do ‘Jornal Nacional’, e William Waack, do ‘Jornal da CNN’, se agigantam quando se contrapõem a ele.
Veterano nos embates com a imprensa, o presidente sabe que basta jogar a isca para que os jornalistas repercutam a mensagem que deseja transmitir. Depois, espertamente, reclama de suposta perseguição e do destaque às notícias negativas a seu respeito.
Nós, críticos de TV, que antes olhávamos quase exclusivamente para a teledramaturgia e os programas de entretenimento, agora temos Jair Bolsonaro como um personagem importante em razão de sua onipresença na mídia e a mobilização que produz no meio artístico.
A chegada de 2022 marca a intensificação da cobertura da campanha eleitoral. O presidente e os demais candidatos serão protagonistas do jornalismo ao longo do ano. Com seu cobiçado poder de influência, a criticada televisão será, mais uma vez, decisiva para definir o rumo do País.