Por enquanto, quem grita "Globo Lixo" perde de 7 a 1
Emissora atacada em redes sociais e nas ruas ganha audiência com críticas a Bolsonaro na cobertura especial da pandemia de covid-19
Desde o início da cobertura especial da pandemia global de covid-19, a Globo cresceu 12,6% no ranking da Kantar Ibope nas 15 regiões metropolitanas onde a empresa afere o público consumidor de TV. O canal da família Marinho ampliou a distância em relação aos principais concorrentes, RecordTV e SBT, que tiveram aumento idêntico de 0,1 ponto no mesmo período. As sugestões de boicote dos antiGlobo se revelaram um fiasco. O problema a ser enfrentado pela emissora não está no 'peoplemeter', aparelho domiciliar que registra os hábitos de TV das famílias pesquisadas, e sim nas ruas.
Nas últimas semanas foram registrados três episódios relevantes de hostilidade contra equipes do canal, todos em São Paulo. Os repórteres Laura Cassano, Renato Peters e Mariana Aldano foram interrompidos durante 'links' (transmissão ao vivo) de maneira agressiva por cidadãos anônimos. A recorrência desses episódios remete ao período de 2013 a 2016, quando vários jornalistas da Globo e GloboNews se tornaram alvo preferencial de manifestantes irritados com a linha editorial de seus telejornais. Naquela fase turbulenta no País, o canal foi acusado de atuar contra o governo de Dilma Rousseff e a favor do impeachment da então presidente.
Agora, os apoiadores de Jair Bolsonaro enxergam a Globo como o grande inimigo a ser combatido. Críticas explícitas e latentes da emissora contra o presidente por conta de sua posição polêmica no enfrentamento do novo coronavírus enfureceram ainda mais os já descontentes. O termo "Globo lixo" saiu das redes sociais e foi para o asfalto. É com esse grito de desprezo — ecoado na mídia — que os revoltados protestaram recentemente sem pudor em mostrar o rosto e a cólera para a câmera. Na época das Jornadas de Junho e em alguns momentos de anos seguintes, a Globo se viu obrigada a usar carros de reportagem descaracterizados e microfones sem canopla de identificação do canal. Seus repórteres vestiram coletes de proteção e capacetes. Em alguns casos houve agentes de segurança na retaguarda das equipes.
Por enquanto, no mata-mata entre a Globo e seus desafetos, a emissora marca 7 a 1. De acordo com informações de bastidores, as intimidações na internet e nas ruas não farão o canal mudar sua abordagem do governo Bolsonaro e da crise de saúde pública suscitada pela covid-19. Com audiência em alta (inclusive a da reprise do jogo da Seleção na conquista do penta em 2002), a emissora sente ter a aprovação da maior parte do público. Levantamento do Ibope apontou que para 77% dos brasileiros a TV é o meio mais confiável para obter informações sobre a pandemia e suas consequências. A busca por programas jornalísticos aumentou 17% desde fevereiro. A televisão brasileira liderada pela Globo dá dribles desconcertantes em seus críticos. Só falta Galvão Bueno gritar: "Olha o gol, olha o goool!"