Programas policiais perdem audiência por escandalizar menos
O sensacionalismo na política e na economia ofusca as tragédias cotidianas
Não muito tempo atrás, o ‘Cidade Alerta’, da Record, e o ‘Brasil Urgente’, da Band, eram as maiores audiências do jornalismo das respectivas emissoras.
A situação mudou. Hoje, as desgraças exibidas nestes programas policiais – ou policialescos, se o leitor preferir – causam impacto menor do que os escândalos políticos e financeiros mostrados nos telejornais.
De janeiro até agora, a atração comandada por Marcelo Rezende registra média de 8 pontos. Chegou a marcar apenas 5 em uma edição recente, após a suspensão do sinal da Record para os assinantes da TV paga.
Enquanto isso, o ‘Jornal da Record’ está com 10 pontos de média, ainda que também apresente relevante perda de público no Ibope desde a saída da emissora da maioria das operadoras.
O programa apresentado por José Luiz Datena, antes imbatível, foi ultrapassado pelo ‘Jornal da Band’: 4.7 pontos contra 5.1 pontos de média – com Record, SBT e RedeTV! fora de boa parte da TV paga, o jornalismo da Band ganhou alguns décimos de audiência nos últimos dias.
É natural acontecer o desgaste de um formato. No ar há vinte anos, essas produções se repetem ao destacar crimes que, infelizmente, já não espantam tanto a população.
Outro fator para o declínio é a longa duração: são três horas de transmissão. O telespectador não tem a mesma paciência de antes. Fidelizá-lo se tornou mais difícil, pois está sempre ‘zapeando’ em busca de novidade nos outros canais.
Existe ainda a influência dos concorrentes. Globo e SBT estão com audiência positiva no final da tarde e início da noite, com filmes, novelas inéditas e reprise de tramas.
Polêmicos e acusados de sensacionalismo, os programas de jornalismo policial ainda terão espaço na TV por muito tempo. Sempre haverá gente interessada em acompanhar os limites da crueldade inerente à vida real.
Mas com tantos escândalos políticos, reviravoltas na economia e ameaças de guerra, as tragédias do cotidiano hipnotizam menos. Sinal dos tempos.
Competentes e carismáticos, Rezende e Datena podem se lançar em outros gêneros de programas. Ainda que essencialmente jornalistas, ambos demonstram ter o entretenimento nas veias.
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