Público dá recado à Globo: volte a fazer novelas com emoção
Produzida há 22 anos, Por Amor se destaca no Ibope ao oferecer a experiência sentimental que poucas novelas recentes conseguiram gerar
Na segunda-feira, dia 17, a sessão Vale a Pena Ver de Novo empatou no Ibope com Malhação – Toda Forma de Amar: 17 pontos.
Foram atraídos para a frente da TV cerca de 3,5 milhões de pessoas somente na Grande São Paulo.
A ótima performance da reprise de Por Amor surpreende a cúpula da Globo e também os que acompanham a trama de Manoel Carlos pela primeira vez.
Trata-se de um novelão focado no básico: o sentimento irrefreável, seja ele qual for, capaz de dominar a racionalidade.
A maioria dos personagens se deixa levar por esse estado emocional às vezes positivo – e, em muitos casos, terrivelmente negativo.
A protagonista Helena (Regina Duarte), por exemplo, despreza o amor romântico por Atílio (Antônio Fagundes) ao abrir mão do filho deles a fim de realizar o sonho da maternidade de sua filha estéril Maria Eduarda (Gabriela Duarte). O amor de mãe grita mais alto.
É um drama primoroso. Neste caso, a ficção cumpre seu papel: suscitar algum sentimento no telespectador. Impossível não se envolver, tomar partido e até sofrer junto com os personagens.
Desde então, essa experiência tornou-se rara a quem segue a teledramaturgia.
Poucas novelas e séries conseguiram tirar o público da letargia. Pior: várias produções geraram apenas rejeição.
“O sentimento mais importante do ser humano é o amor”, disse a grande autora Janete Clair (1925-1983). A falta de sentimentos críveis desanima o público. Não dá para acreditar numa trama quando a mesma não desperta nenhum instinto.
O sucesso de Por Amor envia uma mensagem à Globo e aos demais canais produtores de dramaturgia na TV: ofereçam uma experiência.
O telespectador gosta de imagem de qualidade, cenários criativos, figurino interessante e outras atrações visuais, porém, no fundo, ele busca principalmente sentir algo. Pode ser compaixão, raiva, alegria...
Sentimentos que produzam empatia e o tirem da realidade sufocante. Um teletransporte para outro universo.
O bom entretenimento – ou entretenimento eficiente – produz esse arrebatamento.