Qual o melhor final para Bibi: presa, morta ou redimida?
Ambígua, personagem representa a falência ética de um País em crise de identidade
No capítulo de segunda-feira (14) de ‘A Força do Querer’, Bibi (Juliana Paes), já chamada de Perigosa pelos criminosos do morro, demonstrou empatia e solidariedade ao livrar Silvana (Lilia Cabral) do cárcere numa casa de jogatina.
“Você é um anjo”, disse a jogadora patológica, aos prantos. Fraternal, Bibi explicou ter retribuído a maneira respeitosa com que sempre fora tratada pela arquiteta na época do namoro com Caio (Rodrigo Lombardi).
O gesto lembrou a ‘velha’ Bibi, aquela do início da trama: ingênua, altruísta, sonhadora. O oposto da Fabiana atual: ardilosa, vingativa e fascinada pelas benesses proporcionadas pelo dinheiro do crime.
Essa ambiguidade a faz uma personagem rica dramaturgicamente. A transição foi crível: se antes ela poderia ser considerada uma quase heroína da vida real, lutando pela sobrevivência da família, agora se apresenta como vilã, sorvendo com raiva o que lhe fora negado até então.
E poucas vezes se viu uma antagonista tão conectada com a realidade. Com indisfarçável deslumbramento pelo glamour da bandidagem, Bibi representa a falência da ética e a corrupção de princípios – temas intrínsecos a um Brasil achacado e em crise existencial.
“É muita, muita grana (do crime)”, relata a ex-estudante de Direito à mãe, Aurora (Elizângela). A dona de casa, aliás, continua incrédula ao testemunhar o veloz desvirtuamento da filha.
Bibi simboliza a ascensão social de quem quer vencer na vida à bala. Mas essa subida meteórica da base da pirâmide social ao topo do poder paralelo tem um preço. É comum pagar com a própria vida.
Eis a questão: o que a autora Gloria Perez reserva para Bibi Perigosa?
Em breve, a personagem será presa. Mas logo estará de volta às ruas – e ao morro no qual o marido, Rubinho (Emílio Dantas), se torna cada vez mais influente.
Não vai demorar para que Bibi, a esposa cúmplice, se transforme na Perigosa, uma das chefes do tráfico na região. E aí o final da personagem se faz previsível.
Ou presa definitivamente – e talvez redimida atrás das grades – ou morta numa ação policial coordenada pela inimiga, a major Jeiza (Paolla Oliveira).
Não há como a ex-manicure deixar de atender à mensagem de que o crime não compensa.
Considerado irrelevante por parte da intelectualidade, o gênero telenovela mostra seu valor com a potente dramaturgia realista de ‘A Força do Querer’, dirigida habilmente pela equipe de Rogério Gomes e Pedro Vasconcelos.
Um dos maiores problemas da sociedade brasileira está ali espelhado à espera de discussão popular. Lamentavelmente poucos se dispõem a fazê-lo.
E o Brasil continua sendo essa novela dramática na qual, dia após dia, poucos vilões massacram e debocham de milhões de heróis anônimos. Tanto na ficção quanto na vida real não há esperança de final feliz.