Série brasileira ‘O Diário de Mika’ concorre ao Emmy Kids
Animação do estúdio Supertoons vence as dificuldades de se produzir conteúdo infantil para TV
Nesta terça-feira (10) acontece em Cannes, na França, a cerimônia do International Emmy Kids Awards, premiação de produções voltadas a adolescentes e crianças.
A televisão brasileira tem três representantes entre os indicados: a primeira temporada do ‘talent show’ ‘The Voice Kids’, da Globo, a websérie ‘Eu Só Quero Amar’, originada de trama de ‘Malhação – Seu Lugar no Mundo’, também do canal carioca, e a série de animação ‘O Diário de Mika’, do estúdio paulistano Supertoons.
Elizabeth Mendes e Dario Bentancour Sena, criadores de ‘Mika’, trabalharam 25 anos com Mauricio de Sousa, o pai da ‘Turma da Mônica’, antes de inaugurar a própria produtora.
A equipe do Supertoons é responsável por sucessos como ‘Carrossel em Desenho Animado’ (SBT), ‘Zupt! Com Senninha’ (Discovery Kids) e ‘Tronquinho e Pão de Queijo’ (Gloob).
A primeira temporada de ‘O Diário de Mika’ ganhou transmissão nos canais Disney Junior, TV Brasil e Rede Brasil, além de ter seu próprio canal no YouTube.
De Cannes, a criadora da série, Elizabeth Mendes, e o produtor executivo Dario Bentancour Sena conversaram com o blog.
Como surgiu a ideia da série?
A criadora e diretora da série, Elizabeth Mendes, se inspirou principalmente em uma de suas sobrinhas para criar a personagem Mika, além dos próprios filhos quando crianças. Ao observar a pequena sobrinha, percebendo como ela se relacionava e descobria as coisas do mundo, Elizabeth começou a desenhar e definir os traços da personalidade de Mika. A ideia ficou engavetada durante muitos anos e, quando surgiu a oportunidade de dar vida à série, a personagem ganhou novos traços, ficou mais moderna. Antes, seu diário era um caderno, agora é um tablet.
Qual a técnica de animação utilizada e quanto tempo durou a produção da primeira temporada?
Utilizamos a técnica de animação 2D digital, que também é conhecida como cut-out. Porém, em algumas cenas mais complexas, utilizamos a técnica tradicional de animação 2D, aquela em que se faz vários desenhos para um único segundo de animação. A produção durou cerca de um ano e meio e envolveu cerca de 60 profissionais entre roteiristas, desenhistas, animadores, dubladores e outros especialistas da área.
Quais os principais temas abordados na série?
A série gira em torno de Mika, uma menina de quatro anos muito curiosa que está aprendendo a lidar com todas as novidades que o mundo tem a oferecer. A cada acontecimento que surge em sua vida, ela corre até seu quarto e, por meio de desenhos feitos em seu tablet, conta o que está acontecendo para seus amigos brinquedos, que ganham vida em sua presença. Com a ajuda desses amigos, Mika vai investigar, aprender e descobrir um monte de coisas novas. A série apresenta um novo olhar sobre os temas abordados no fantástico mundo de descobertas e conquistas de crianças em idade pré-escolar. Todos os episódios têm acompanhamento de psicopedagoga.
Na era das crianças conectadas desde cedo à internet, fazer animação que agrade a esse público infantil é um desafio?
Sempre foi um desafio produzir para crianças pois é preciso agradar o gosto delas e também o dos pais, sem contar o compromisso ético e moral que um produto de grande porte deve ter com esse público. Hoje em dia vemos as crianças consumindo produções extremamente baratas no YouTube, que é um dos maiores players da atualidade. Muitas produções são carentes de conteúdo de qualidade, mas entretêm os pequenos, servem de passatempo. Esses conteúdos não têm grandes ambições e compromissos com os pais ou mesmo com as crianças, e mesmo assim agradam. É importante buscar caminhos para satisfazer ao público, mas é preciso saber que não conseguimos agradá-lo em sua totalidade, justamente pelas diferenças em relação aos hábitos de consumo de cada criança, de cada família. Noss o objetivo foi criar histórias lúdicas e divertidas em que as crianças pudessem se reconhecer e aprender com situações que muitas delas vivenciam. Tentamos explorar ao máximo a criatividade para que possamos nos conectar com as crianças e seus pais, principalmente em relação às rápidas mudanças nos hábitos de consumo do público infantil.
A TV aberta apresenta pouco espaço para a programação infantil e, consequentemente, para formar nova geração de telespectadores. O que acham desse posicionamento das grandes emissoras?
A diminuição da programação infantil na TV aberta é um reflexo da complexidade do mercado voltado para crianças, mais especificamente na veiculação de comerciais direcionados a esse público na TV. Hoje em dia existem muitas legislações e regulações que cercam a propaganda voltada para o público infantil. Isso faz com que o número de anunciantes caia e, consequentemente, a programação diminua. Algumas emissoras abertas ainda apostam na programação infantil, e isso é ótimo! Por mais que a renda das TVs venha essencialmente dos comerciais, esse tipo de programação deveria ser privilegiada pois as crianças merecem seu espaço; merecem se divertir e aprender com desenhos transmitidos pela TV.
O que falta para que os produtores de animação brasileiros consigam desenvolver e exibir mais projetos?
A produção de animação é muito cara, demorada e trabalhosa. Faltam recursos financeiros para desenvolver esses projetos. Existem formas de captação de verba em editais do governo para produção de obras audiovisual, porém são processos muito burocráticos e demorados. Os pequenos produtores têm grande dificuldades de conseguir apoio para desenvolver seus projetos. Esse cenário vem melhorando, principalmente pela lei da TV paga, que obrigada as emissores a cabo a exibirem conteúdos produzidos nacionalmente. É um grande incentivo para a produção brasileira e serve de combustível para os órgãos governamentais darem mais atenção a nós, produtores.
Em tempo: ‘O Diário de Mika’ virou musical e teve uma bem-sucedida temporada num teatro da zona leste de São Paulo. O espetáculo fará turnê pelo País. A segunda temporada da série, com 26 episódios, já está em produção.
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