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Série 'Favela Gay' busca naturalizar os LGBTQIs excluídos

Produção do diretor Rodrigo Felha mostra a realidade de quem não vive em lugares privilegiados e progressistas

25 mar 2020 - 12h13
(atualizado às 12h18)
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Se já é difícil ser não-hétero em um bairro de classe média de uma cidade cosmopolita, imagine a complexa realidade de gays, lésbicas, travestis e transexuais que moram em comunidades carentes ou áreas dominadas por conservadores. O retrato desse grupo vulnerável e, ao mesmo tempo, incrivelmente forte pode ser visto a partir de hoje (quarta, 25) na série Favela Gay - Periferias LGBTQI+, no Canal Brasil.

A nova produção do diretor Rodrigo Felha, criado na Cidade de Deus, teve como inspiração o premiado documentário Favela Gay, de 2014, quando o cineasta registrou o cotidiano de homossexuais e transexuais de comunidades do Rio de Janeiro.

Rafa e Isa estão entre os entrevistados da série documental sobre o universo de LGBTQIs (Lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, transgêneros, queers, intersexuais e outros) fora dos grandes centros urbanos
Rafa e Isa estão entre os entrevistados da série documental sobre o universo de LGBTQIs (Lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, transgêneros, queers, intersexuais e outros) fora dos grandes centros urbanos
Foto: Divulgação

A série mostra a rotina de preconceitos e incertezas fora dos grandes centros urbanos. A equipe circulou por Pará, Distrito Federal, Bahia, Rio Grande do Sul, entre outras regiões. Os entrevistados comentam as dificuldades no convívio familiar, o sofrimento de se 'manter no armário' por medo, o envolvimento com drogas e prostituição, a salvação por meio da arte e as transformações produzidas por um grande amor.

Os dez episódios de Favela Gay – Periferias LGBTQI+ estarão disponíveis no Canal Brasil Play sempre após a exibição na TV e poderão ser assistidos também por não assinantes durante o primeiro mês. Rodrigo Felha conversou com o Terra.

A feminista transexual Tiffany Odara e o diretor Rodrigo Felha: visibilidade a quem raramente ganha espaço na mídia tradicional
A feminista transexual Tiffany Odara e o diretor Rodrigo Felha: visibilidade a quem raramente ganha espaço na mídia tradicional
Foto: Divulgação

A mídia costuma mostrar apenas a realidade dos gays de grandes cidades, onde há mais liberdade de expressão. Qual a importância de revelar a vida dos homossexuais de outros lugares?

Sempre colocam os moradores de favelas e os gays como pessoas diminuídas, sofredoras. Fiz na série o mesmo que no documentário: naturalizei essa gente como a sociedade deve naturalizar. Eu as mostro como elas são. Pessoas que precisam de mais visibilidade para dizer o que pensam, expor seus sentimentos, suas dores e, sobretudo, suas vitórias. A série e o filme buscaram captar a essência dos entrevistados.

Ainda existe resistência de muitas empresas e pessoas em associar sua imagem e marca a conteúdo LGBT. Você teve dificuldade para viabilizar financeiramente a produção?

Tive a sorte de captar recursos e rodar a série ainda em um governo que tratava a cultura como arma da sociedade para absorver conteúdo. Havia portas abertas. Hoje, com esse desgoverno, a cultura não é mais usada para discutir a diversidade de gêneros para que as pessoas em geral possam ser mais compreensivas e amorosas entre si.

Acha que a série pode ajudar gays com dificuldade de se assumir e enfrentar o preconceito, e fazer homofóbicos e conservadores repensarem sua posição?

De fato, pode ajudar muitas pessoas a 'sair do armário'. Na série há vários relatos sobre as dificuldades de revelar a sexualidade no ambiente familiar e enfrentar a sociedade, assim como a sensação de felicidade após passar por esse duro processo. Muitos entrevistados hoje têm voz para replicar o que pensam. Precisamos promover esse debate sempre com afetividade. Agressão verbal contra conservadores e preconceituosos não fará atingirmos o entendimento.

Na sua avaliação, como a TV pode usar o imensurável poder de alcance e influência para ajudar a combater a homofobia e a transfobia?

A ferramenta audiovisual, e especialmente a televisão, pode gerar reflexão e transformação a um grande número de pessoas. Ajuda a naturalizar essa questão (dos LGBTs). Por exemplo, assim como é normalizado o casamento entre homem e mulher, precisamos naturalizar o casamento homoafetivo. A TV tem o poder de trazer à tona essa discussão e quebrar barreiras. Por isso esse desgoverno diminuiu o orçamento para o audiovisual. Ele sabe que é uma ferramenta de longo alcance que pode deixar um legado.

Serviço

Favela Gay – Periferias LGBTQI+, no Canal Brasil

Toda quarta-feira (19h30); reprises às segundas (12h30) e terças (7h30)

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