Sexo, cocaína, deprê: ‘Halston’ retrata lado sombrio da fama
Série da Netflix sobre famoso estilista gay americano traz Ewan McGregor, o Obi-Wan Kenobi de ‘Star Wars’, em uma de suas melhores atuações
Como tudo o que tem a mão do produtor e roteirista Ryan Murphy, a dramaturgia de Halston é rasa, já que ele sempre privilegia a estética e o glamour em reflexo da própria veleidade.
Ainda assim, a série em cinco episódios vale a pena ser vista porque apresenta visão contundente do titilante universo da moda e de como o sucesso e o poder podem arruinar uma pessoa.
Nascido no conservador estado de Indiana, Roy Halston ainda era um garoto quando começou a criar chapéus com penas soltas de aves para sua mãe, a fim de amenizar a tristeza dela por conta de um marido violento.
Já adulto e em Nova York, foi alçado à fama após a fashionista primeira-dama Jacqueline Kennedy usar um acessório de cabeça assinado por ele e o transformar instantaneamente no chapeleiro preferido das americanas.
Com a ajuda de um ambicioso investidor, Halston lançou coleções de roupas e, pouco depois, se tornou o rei do licenciamento: colocava seu nome em dezenas de produtos – e ganhava cada vez mais dinheiro e status.
Paralelamente, a série mergulha na sexualidade do designer por meio de cenas nada sutis. Ressalta sua preferência por negros e latinos, e a busca por prazer anônimo no submundo da metrópole em época de forte intolerância contra homossexuais.
Aprisionado em um relacionamento destrutivo com um michê venezuelano, o estilista cai na armadilha do vício em cocaína, droga consumida em compulsão. Vira um zumbi sob ternos elegantes, sempre com um cigarro nos dedos, enquanto seu império milionário desmorona.
O menino doce do bucólico centro-oeste da América se torna um homem egocêntrico, superficial e deprimido. Mero rascunho do criador brilhante, carismático e vanguardista que o fez ser igualado aos totens da alta-costura francesa.
Quando a série chega à efervescente década de 1980, Halston se depara com a aids, doença que viria a matá-lo aos 57 anos, fase em que já não tinha tantos amigos, estava longe dos holofotes e questões contratuais o impediam de usar seu nome em qualquer negócio.
O melhor da produção é, sem dúvida, a interpretação de Ewan McGregor. O escocês, de 50 anos, atinge as nuances exigidas pelo personagem real que se mantém vivo na memória de quem conhece um pouco de história da moda.
Nos momentos certos, o ator o mostra simpático e esnobe, inseguro e autoconfiante, empático e repugnante. Demasiado humano e complexo. Roy Halston foi vítima de si mesmo e, no fim da vida, parece ter feito as pazes com ele próprio.
A série tem como grande coadjuvante a luminosa Liza Minnelli, interpretada com vigor e charme por Krysta Rodriguez. A atriz e cantora foi a amiga mais próxima e grande musa do estilista. Aos 75 anos, é a única pessoa ainda viva dos principais retratados. Uma sobrevivente daqueles anos de drogas, bebedeiras, disco music e caos.
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