Telespectador adora assistir à desgraça alheia de camarote
Interesse público por dramas como o da ex-paquita Ana Paula reflete o desejo de fugir da própria realidade
Se a grama do vizinho é sempre mais verde, espiar a infelicidade dos outros pode ser uma espécie de vingança. Moralmente condenável, sem dúvida.
Na língua alemã existe uma palavra para designar o prazer com o infortúnio de alguém: schadenfreude. Em tradução livre, ‘alegria ao dano’.
É o que sente parte das pessoas que acompanham pela TV o escândalo midiático protagonizado pela ex-paquita Ana Paula Pituxita e o ex-marido dela, o empresário José Roberto Barbosa.
Os dois participaram do reality show Troca de Esposas, na RecordTV, no início deste ano.
Tal prazer deletério com o final colérico do casamento está registrado nas mensagens postadas em redes sociais e na área de comentários das matérias a respeito do caso. Alto teor de sadismo, falta de empatia e deboche.
Estamos diante de uma triste novela da vida real, com acusações múltiplas de ambas as partes: desde agressão física até automutilação com intenção criminosa.
Parece ainda um reality show, pois há vídeos com imagens dramáticas.
Uma narrativa contada em detalhes – e com diferentes versões – em programas de TV, portais de notícias, canais no YouTube e outras plataformas, sempre com boa audiência.
Para esquecer um pouco das próprias mazelas, o público consome vorazmente a história.
Assistir ao declínio de alguém gera efeito anestésico em muita gente. Especialmente quando se trata de um famoso. “Antes ele do que eu.”
Mas deve-se tomar cuidado com tal desprezo pela dor alheia. Da mesma Alemanha de schadenfreude vem um ensinamento do filósofo Friedrich Nietzsche.
“Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você.”