Três momentos em que a Globo castigou Regina Duarte
Atriz já vivia situação desconfortável no canal antes de trocar a TV por Bolsonaro
O casamento de Regina Duarte com a Globo durou 51 anos, bodas de bronze. Começou com a novela Véu de Noiva, o primeiro grande fenômeno de audiência da emissora carioca na faixa das 20h, em 1969, e terminou com a rescisão do contrato em fevereiro desse ano. Todos sabem o motivo do rompimento: a veterana da teledramaturgia noivou com Jair Bolsonaro e depois assumiu a Secretaria Especial de Cultura. Mas o enlace com o presidente durou apenas 77 dias, muito menos do que a duração de um folhetim da TV.
A partir do momento em que assumiu o flerte com o governo federal, a artista passou a ser escanteada pela emissora onde se consagrou. Em maio, matéria do Jornal Nacional a respeito da possibilidade de Regina Duarte deixar o governo a identificou de maneira desdenhosa. "O próprio Bolsonaro passou a reclamar dela e, na semana passada, ao ser perguntado se a ex-atriz sairia do governo, o presidente respondeu". Ex-atriz? A veterana apenas interrompeu a carreira artística por um tempo, não anunciou o abandono da profissão.
Poucas semanas depois, a Globo passou a veicular nos intervalos um vídeo para anunciar a inclusão de novelas antigas no catálogo da Globoplay. Regina participou de seis produções que tiveram cenas exibidas na tal propaganda. Foi protagonista de quatro delas: Roque Santeiro (1986), Vale Tudo (1988), História de Amor (1995) e Rainha da Sucata (1990). Apesar disso, a edição mostrou somente um braço dela em rápida sequência do personagem Sinhozinho Malta (Lima Duarte). As redes sociais e vários veículos de imprensa sugeriram boicote por parte do canal.
O 'cancelamento' prosseguiu após ela deixar o cargo público no governo Bolsonaro. O lançamento de Vale Tudo na Globoplay mereceu matéria especial no Fantástico no último domingo (19). A protagonista Raquel apareceu com destaque na famosa cena em que rasga o vestido de noiva da filha vilã Maria de Fátima (Gloria Pires), porém, Regina Duarte não estava entre os atores ouvidos pelo programa para comentar o sucesso e a contemporaneidade da novela.
A relação da artista com a Globo já estava desgastada antes de sua militância política repercutir. Apesar de receber um dos mais altos salários da casa, Regina havia sido escalada para poucos trabalhos nos últimos dez anos. Nesse período, fez somente duas novelas do começo ao fim: o folhetim das 23h O Astro, em 2011, e a produção das 18h Tempo de Amar, de 2017. A última protagonista na faixa mais nobre, a das 21h, foi a médica Helena, em Páginas da Vida (2006). O casamento entre a eterna namoradinha do Brasil e a emissora na qual se tornou uma estrela sinalizava desamor bem antes de Jair Bolsonaro roubar o coração da atriz.