TVs que desprezavam MC Kevin agora o exploram por audiência
Morte do funkeiro ressalta recorrente oportunismo gerado por tragédia com famosos
Acesse sua memória. Tente se lembrar de uma matéria a respeito da vida e obra de MC Kevin em alguma rede de TV antes do domingo, 16 de maio.
Provavelmente não irá recordar. Ele era ignorado pela chamada ‘grande mídia’. Não frequentava os programas com espaço para atrações musicais.
A TV aberta, ainda conservadora, prefere cantores e bandas mais palatáveis, livres de polêmicas. Aceitos pelo grande público, cumprem o papel de agente do entretenimento pasteurizado.
Kevin fazia um funk genuíno, com linguajar considerado vulgar por muita gente. A televisão gosta apenas da versão ‘soft’ do gênero que estremece subúrbios e periferias.
Ao se tornar protagonista de uma tragédia, o artista instantaneamente passou a ter as músicas tocadas e elogiadas na TV. Foi ‘descoberto’ pelas emissoras.
Na Globo, o ‘Jornal Nacional’ e o ‘Fantástico’ deram relevante espaço ao MC paulistano. Algumas matérias ganharam aspecto de homenagem póstuma.
O ‘Cidade Alerta’, da Record TV, fez por dias e dias deplorável exploração do caso. Assumiu papel de polícia ao expor e contestar testemunhas e apresentar versões delirantes ao ocorrido. Explícita má-fé na busca por pontos extras no Ibope.
Morte sempre rende na imprensa. Atrai a curiosidade (mórbida) de leitores, telespectadores, ouvintes. Um famoso morto em circunstância sinistra gera ainda mais interesse – e ganha maior destaque no noticiário.
Com mais de 10 anos de carreira, MC Kevin faz parte de uma geração de artistas – funkeiros, rappers, sertanejos – que não precisaram da TV para nada. Tornaram-se ídolos e ricos pelo contato direto com fãs na internet.
Geralmente, só recebem alguma atenção do mais influente veículo de comunicação do País quando se envolvem em escândalo ou drama. Lamentável.