Veteranas roubam a cena com personagens maternais em novela
Elizângela, Cláudia Mello e Luci Pereira se destacam pelo talento e carisma em ‘A Força do Querer’
É bonito ver um ator pegar um papel coadjuvante e transformá-lo em destaque numa trama já recheada de boas atuações.
Isso acontece em ‘A Força do Querer’. Não uma nem duas, várias vezes. O telespectador tem sido presenteado com grandes momentos de personagens secundários.
O que escrever a respeito de Elizângela? Ela brilha a cada cena com Juliana Paes (Bibi) e o excelente João Bravo (Dedé). Sua Aurora é ao mesmo tempo uma referência de racionalidade e a representação da passionalidade materna.
A atriz transmite a preocupação e a dor de um mãe que testemunha a derrocada moral da filha. Tenta protegê-la do pior enquanto procura resguardar a própria dignidade – quase uma escolha de Sofia: deixar Bibi se afundar sozinha ou abraçá-la e ruir junto em nome do amor incondicional?
Elizângela, 62 anos, que na juventude foi uma estrela tão badalada quanto Juliana Paes, ganhou um papel à altura de sua força dramatúrgica, após anos e anos vivendo tipos pouco lembrados pelos noveleiros.
No mesmo folhetim, Zu é uma governanta. Na prática, usa seu inesgotável bom senso para não deixar desmoronar um clã problemático.
Cláudia Mello, com aquele inconfundível registro vocal tranquilizante, materna personagens à beira de um ataque de nervos, como Joyce (Maria Fernanda Cândido) e Ivana (Carol Duarte).
A atriz, de 67 anos, tem aquele jeito de mãezona postiça. Desperta no público uma imediata simpatia. E retrata uma realidade cruel: milhões de Zus abrem mão da própria individualidade para viver a vida dos patrões. Seus problemas acabam ofuscados pelos conflitos – às vezes mesquinhos – de quem lhe paga o salário.
Igualmente acolhedora é Nazaré, a festeira personagem de Luci Pereira, 57 anos. Criou o sobrinho Zeca (Marco Pigossi) como filho. Ela forma uma divertida ‘dupla de prosa’ com Abel (Tonico Pereira).
Espirituosa e arisca, a dona de bar sempre solta um comentário ‘arretado’ ou um conselho sábio. Representa bem a essência da mulher do Norte e Nordeste, poucas vezes representada de maneira tão leve – ou seja, sem clichês – na teledramaturgia.
E assim, de maneira despretensiosa, baseada exclusivamente na experiência e no carisma, essas três artistas atraem os holofotes quando surgem em cena. Valorizam o texto de Gloria Perez e a interpretação dos colegas de cena.
Prazeroso vê-las dando aula de atuação todas as noites.
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