Bolsonaro surpreende com autocontrole diante das provocações de Bonner e Renata
Presidente frustra quem esperava um show de grosserias ao longo dos 40 minutos da sabatina no 'JN'
Durante os primeiros 10 minutos da entrevista de Jair Bolsonaro no 'Jornal Nacional' houve um embate direto entre o presidente e o âncora e editor-chefe William Bonner.
O jornalista insistiu em ouvir do candidato à reeleição o compromisso de respeitar o resultado da eleição. Conseguiu a verbalização de Bolsonaro contra a possibilidade de golpe. Um ponto valioso para o 'JN'.
A tensão era tangível no estúdio e na tela da TV, mas o presidente se manteve calmo. Mesmo quando protestou, o fez no protocolo das discussões.
Renata precisou tomar a iniciativa de lançar outro tema, o gerenciamento da pandemia, para iniciar sua participação na sabatina.
Tranquila, ela o questionou insistentemente a respeito do comportamento insensível com as vítimas do coronavírus. Bolsonaro se safou de responder, por exemplo, sobre a imitação de um doente com falta de ar.
O clima ficou mais ameno quanto se falou de economia e da preservação da Amazônia. Com sua caneta Bic entre os dedos, o presidente foi contundente ao rebater as acusações de ser um "destruidor de florestas".
Com dados na ponta da língua, ele defendeu o agronegócio e até concordou quando Bonner disse que o Brasil precisa mudar sua imagem no exterior em relação à política ambiental.
Uma das frases mais fortes de Bolsonaro surgiu quando o jornalista o contestou por ter se elegido criticando a velha política e, pouco depois, se aliar ao Centrão.
"Você está me obrigando a ser um ditador", disse o presidente, para surpresa do âncora. Ele justificou as criticadas negociações com os partidos dominantes do Congresso como única maneira de conseguir governar.
"Eu não estimulei nada, candidato", rebateu o jornalista, enfático. Sem se alterar, Bolsonaro insistiu na declaração de efeito contra Bonner.
O único momento de temperatura mais elevada aconteceu quando o apresentador afirmou ter havido "escândalo no Ministério da Educação", referindo-se ao caso dos pastores lobistas.
Após rechaçar a assertiva, o presidente voltou ao tom pacífico.
Ao ser informado de que tinha 1 minuto para a manifestação final, Bolsonaro tentou descontrair. "Eu queria ficar algumas horas com vocês aí."
Os entrevistadores poderiam ter reservado mais tempo para abordar questões sobre a economia e as propostas do plano de reeleição em comparação com as promessas do candidato em 2018.
No geral, foi uma sabatina morna, sem a guerra de palavras prevista por quem se lembra do confronto de 4 anos atrás, quando Bolsonaro teve uma performance considerada agressiva.
Na comparação com uma luta de boxe, nenhum dos lados conseguiu nocautear o oponente. Houve empate técnico.