Boni insiste em criticar a Globo vinte anos após sair de lá
Ex-chefão afirma que canal errou ao divulgar o assédio cometido por José Mayer
Duas décadas se passaram desde que José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, deixou a vice-presidência de Operações da Globo. Mas ele parece não ter processado completamente seu desligamento do canal.
Basta surgir uma polêmica a respeito da emissora, e o executivo de TV ressurge na imprensa para criticá-la. Culpa em parte dos jornalistas que o procuram – já prevendo alguma declaração contundente capaz de gerar manchete chamativa.
Desta vez, Boni reprovou o ‘Jornal Nacional’ pelo espaço dedicado ao assédio do ator José Mayer à figurinista Su Tonani. Em entrevistas, ele classificou a abordagem feita pelo telejornal como “sensacionalismo”.
À ‘Folha’, declarou que “colocar seis minutos (do caso) no ‘Jornal Nacional’ é apelação”. Na opinião do ex-todo-poderoso da Globo, a assunto deveria ser tratado apenas internamente.
É provável que tenha sido assim durante sua gestão, já que os episódios de assédio no canal são antigos e qualquer jornalista minimamente informado tem conhecimento de vários deles, ainda que não possa divulgá-los por questões éticas e jurídicas.
Boni é, sem dúvida, um dos profissionais com mais conhecimento e competência no mercado de televisão. Contudo, seus recorrentes palpites sobre a Globo não contribuem para melhorar o canal e a sociedade.
A emissora agiu certo ao abordar a questão em seus principais jornalísticos – o ‘Hoje’ também colocou em pauta a denúncia de assédio e suas consequências.
O canal não é uma empresa qualquer. Trata-se de uma concessão pública com a maior visibilidade entre as redes de comunicação do País.
Ignorar o assédio e o protesto de suas próprias funcionárias, revoltadas com uma prática execrável e mais comum do que se imagina nos bastidores do mundo da TV, seria antiético e provocaria um estrago imensurável na imagem da emissora.
Espera-se – e se deve exigir – transparência de uma empresa tão poderosa como a Globo, que afirma prezar pela verdade não apenas em seu jornalismo, mas também na política de relacionamento com seus contratados e colaboradores.