Bonner chama para si erro na cobertura da guerra no ‘JN’
Telejornais nos quatro cantos do planeta se precipitaram ao interpretar uma imagem assustadora na Ucrânia
Quando se faz necessário um pedido de desculpas no ‘Jornal Nacional’, quase sempre é William Bonner quem apresenta a correção diante da câmera. Não se trata de desmerecer Renata Vasconcellos. Na verdade, ele dá a cara a tapa para poupar a colega.
Como editor-chefe, é o principal responsável pelo telejornal. Acima, há apenas o diretor geral do Jornalismo da Globo, Ali Kamel, acionado em casos graves. Bonner chama para si a tarefa incômoda de assumir falhas relevantes e virar alvo das críticas, principalmente na internet.
Na edição de segunda-feira (21), o jornalista assumiu no ar uma falha resultante da impulsividade na cobertura da guerra na Ucrânia. A equipe do ‘JN’ foi traída – assim como em centenas de outros canais, aqui e no exterior – pelo apelo de uma imagem impactante.
O tanque passando sobre um carro, em Kiev, ganhou uma interpretação irresistível a quem monta as manchetes: a truculência do inimigo (no caso, seria o Exército da Rússia) sobre a população civil inocente. O poder bélico esmagando, literalmente, a liberdade e a paz do cidadão vulnerável. Um registro “emblemático”, na definição de Bonner.
Pode não ter sido bem assim. “Na descrição dessa cena, nós dissemos que um tanque russo tinha cometido uma covardia brutal. Essa afirmação não tinha base suficientemente sólida para ser feita. Foi um erro”, informou o âncora.
“Passados 24 dias desde que aquelas imagens chocantes viralizaram, todo o esforço exaustivo da imprensa para esclarecer os fatos resultou numa certeza: apesar de as cenas serem autênticas, não é possível afirmar se o tanque estava sendo conduzido por russos ou ucranianos, e nem o que teria provocado aquela ação.”
A redação do ‘JN’ foi traída pela ânsia de exibir a imagem tão exemplificadora do horror da guerra. “Por isso, e em respeito ao trabalho correto e dificílimo dos nossos colegas da Globo, é preciso fazer esse esclarecimento, ainda que tardio, com nosso pedido sincero de desculpas. O ‘Jornal Nacional’ vai estar ainda mais atento em nossas apurações. Nosso único compromisso é a busca da verdade.”
De acordo com a mídia internacional, o modelo do tanque visto na imagem é usado tanto por russos quanto por ucranianos. Pode ter sido uma ação impiedosa das forças de Vladimir Putin ou uma manobra desastrada de ucranianos fugindo da linha de tiro.
O amplo espaço para o noticiário da guerra na Ucrânia não melhorou a audiência do ‘JN’. Nos dias com melhor resultado, marca médias entre 21 e 23 pontos. Distante do patamar de 30 pontos que alcançava em 2020, no auge da cobertura da pandemia de covid-19.