Boris achou que convite da CNN era trote e se diz “liberal”
Jornalista comenta o retorno à TV aos 80 anos, rebate críticos de seu pensamento político e fala do medo da morte
Nunca é tarde para começar, recomeçar ou se reinventar. Roberto Marinho tinha 60 anos quando inaugurou a TV Globo. Winston Churchill estava com 76 ao ser eleito primeiro-ministro pela segunda vez. Anthony Hopkins ganhou um Oscar aos 83. Chegou a vez de Boris Casoy entrar para esse time seleto.
O jornalista, que completará 81 anos em fevereiro, está empolgado com a volta à televisão. Ele é o novo titular do quadro ‘Liberdade de Opinião’, veiculado de segunda a sexta no programa ‘Novo Dia’, da CNN Brasil. A estreia será em janeiro.
Sua missão será analisar o mundo da política em ano eleitoral. Boris consolidou na TV o papel do âncora de telejornal. Destemido, sempre disse no ar aquilo que estava engasgado na garganta do povo sem voz.
O jornalista conversou com o blog.
Algumas vezes, após um período longe da TV, o senhor fez o chamado retorno triunfal. Acontece agora na CNN Brasil. Como reagiu ao convite e como vê esses ciclos em sua trajetória?
Minha primeira reação foi, ao receber uma mensagem da direção da CNN, de que tratava-se de um trote. Depois imaginei que a emissora iria reclamar do uso que faço no ‘Jornal do Boris’, na internet, de material de um boletim que a CNN envia todas as manhãs Só consigo ver esses ciclos como produto do meu trabalho, apesar da idade. Pelo menos é o que dizem as emissoras.
Em período de tantas demissões de veteranos do telejornalismo, o senhor, aos 80 anos, volta a ocupar um posto de destaque em uma grande emissora. Como avalia?
Acho que produzo um trabalho que traz resultados para as TVs. Tem sido assim em toda a minha longa vida profissional. Procuro dar o melhor de mim. Não tento agradar a todos. Sei que, como todo mundo, sou falível, mas procuro acertar. Sei que há críticos ferrenhos do meu trabalho e de minhas posições. Mas olho todas as manhãs no espelho sem qualquer problema de consciência. Além de informar corretamente, procuro ajudar meu país e a sociedade.
O senhor assume a função antes ocupada por Alexandre Garcia, que teve a credibilidade contestada por opiniões negacionistas e ideologizadas. Está preparado para ser julgado pelo tribunal da internet e a imprensa?
Em mais de 60 anos de profissão já tenho calos de tantas avaliações que são feitas a meu respeito. Algumas injustas, outras, mentirosas. E num momento difícil como o que o Brasil vive, com uma lamentável polarização política, estou certo que serei alvo de todo tipo de monitoramento. Posso até mudar minhas opiniões, mas não mudo minhas escolhas pela democracia e liberdade. Democracia e liberdade de fato.
Podemos definir o senhor como um pensador de direita moderado?
Não gosto desses rótulos. É muito difícil que eles atinjam uma precisão necessária para avaliar corretamente todos os matizes de quem é de esquerda ou de direita. Claro que excluindo os extremistas. Acho o marxismo um atraso; aprecio todas as liberdades, inclusive a de investir. Se você quiser um rótulo, imagino ser um liberal.
Em entrevista anterior ao Terra, o senhor revelou ter cumprido rigorosamente o distanciamento social e defendeu a vacina contra a covid. Continua com o mesmo pensamento?
Tenho as mesmíssimas posições, baseadas na ciência: vacina, máscara e distanciamento social.
A cobertura da eleição presidencial de 2022 deverá ser a mais tensa de todos os tempos. O senhor se anima com a possibilidade de entrevistar os candidatos e, eventualmente, participar de debates?
Claro que me animo e até gosto de entrevistar os candidatos. Queria apenas que os debates fossem mais abertos, menos amarrados e em horário que alcançasse a maioria da população.
Às vésperas de completar 80 anos, o senhor iniciou o curso de Medicina Veterinária. Já faz planos para os 90?
Sou consciente da minha finitude. Se houver necessidade, oportunamente traçarei planos para os 90. Já temi a morte, hoje amadureci a ponto de não temer mais. Só não quero sofrer para ir embora.