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"Charlie Hebdo" faz crônica do atentado um ano após ataque

6 jan 2016 - 08h53
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A revista "Charlie Hebdo" fez uma crônica do atentado contra sua redação, em 7 de janeiro do ano passado, no número especial que chegou nesta quarta-feiras (6) às bancas, dedicado em boa medida a ridicularizar as grandes religiões monoteístas e o fanatismo.

Foto: Reprodução

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Fabrice Nicolino, um dos sobreviventes do ataque que deixou 12 mortos, relata o atentado - realizado pelos irmãos Saïd e Chérif Kouachi - com um tom entre descontraído, humorístico, emocionado e com raiva.

"É abominavelmente triste e em parte tão divertido que não sabemos por que choramos", ironizou Nicolino em seu artigo, ilustrado com um desenho em que o diretor da publicação assassinado, Stéphane Charbonier, "Charb", em uma mesa com todos os seus companheiros, afirma: "digo de verdade: vamos continuar nos divertindo juntos por muito tempo".

Na manhã do atentado, os desenhistas e jornalistas de "Charlie Hebdo" tinham entabulado em uma grande discussão sobre "os jovens franceses que elegem a jihad (a guerra santa), com duas opiniões opostas e virulentas".

Uns responsabilizavam - lembrou Nicolino - a sociedade francesa por ter criado esses jovens fundamentalistas, enquanto outros destacavam que foram gastos bilhões de euros nos bairros conflituosos de onde procedem a maior parte desses radicais, sem resultados.

A reunião da redação foi interrompida com a invasão dos irmãos Kouachi, encapuzados e armados com metralhadoras, que após matarem um empregado de manutenção do edifício, tomaram como refém uma das desenhistas da revista, Coco, para que ela os levasse até a redação.

Coco explicou que subiu até o segundo andar e ali, "paralisada", "com duas kalashnikov nas costas, (marcou) o código (da porta) como uma autômata" e os terroristas começaram a disparar.

Sigolène, outra das sobreviventes que estavam na redação, contou que quando esteve diante dos irmãos Kouachi, quem estava em torno da mesa se olhou: "cruzei o olhar com 'Charb' e acho que tinha entendido" o que se passava.

Luz, um dos desenhistas, disse ter chegado tarde à revista porque era o dia do seu aniversário. "Tinha celebrado na cama com minha mulher, dois biscoitos e uma vela. Para me redimir pelo atraso, tinha comprado uma torta". Mas quando se aproximava do edifício foi advertido para que não entrasse porque havia uma tomada de reféns.

Luz assinalou que viu então os dois terroristas saírem: "os vi caminhar para trás, com passos de dançarino, como em uma espécie de coreografia. Estava petrificado, concentrado no absurdo da dimensão gráfica do que via".

Quando um policial disse a ele que não entrasse na redação para não ficar com a imagem do banho de sangue na cabeça, Luz lembrou que, de onde estava, assinalava que "não via mais do que seus cus. O cu dos meus amigos mortos".

O número especial do aniversário do atentado chegou às bancas com uma tiragem de um milhão de exemplares com desenhos de algumas das vítimas e um editorial assinado pelo atual diretor, o desenhista Laurent Sourisseau, conhecido como "Riss", que dispara contra todos os que tentaram matar a publicação, sem sucesso, em particular contra os fanáticos religiosos.

"O ano de 2015 foi o ano mais terrível da história do 'Charlie Hebdo', porque fez sofrer o pior suplício para um periódico de opinião: pôr a toda prova nossas convicções. Eram suficientemente fortes para nos dar energia para nos levantarmos?

"Você tem a resposta entre suas mãos" - se dirigindo diretamente aos leitores. "As convicções dos ateus e dos laicos podem movimentar ainda mais montanhas do que a fé dos crentes", finalizou.

EFE   
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