Cinco razões para a RedeTV! ter perdido lugar no Ibope para a TV Brasil
Canal estatal criado por Lula e valorizado por Bolsonaro se destaca com jornalismo e documentários
Em agosto, setembro e outubro, a RedeTV! ficou atrás da TV Brasil no ranking nacional do Ibope. Perdeu a 5ª posição entre as maiores redes de televisão do País.
A liderança folgada continua sendo da Globo, seguida de Record (2º lugar), SBT (em 3º) e Band (4º).
A queda expõe antiga crise na programação da emissora de Amilcare Dallevo Jr. e Marcelo de Carvalho.
Nos últimos anos, o canal sofreu baixas relevantes na área artística e não conseguiu se reinventar.
Alguns problemas gritantes ajudam a compreender por que um canal que já foi tão criativo hoje vive fase de estagnação.
Manhãs quase no traço - Até o final da década de 2000, a RedeTV! disputava a audiência matinal com a Band e chegava a encostar na Record em alguns momentos. Os programas de Olga Bongiovanni ('Bom Dia Mulher') e Daniela Albuquerque ('Manhã Maior') registravam pelo menos 1 ponto. Depois, a emissora fez mudanças que afugentaram o público. Várias tentativas de recuperação falharam. Hoje, com Ronnie Von ('Manhã do Ronnie') e Claudete Troiano ('Vou te Contar') raramente alcança meio ponto.
Humor esvaziado - No auge, o 'Pânico na TV' chegava a conseguir picos de 15 pontos e médias de 10 pontos. Garantia a vice-liderança e, às vezes, ocupava o 1º lugar no Ibope de domingo por alguns minutos. A saída da trupe para a Band nunca foi superada. Ainda que criativo, o 'Encrenca' jamais teve o mesmo desempenho de audiência. A ida do grupo original também para a Band gerou fuga de público. A reformulação do programa não funcionou. A emissora perdeu a identificação com o humor debochado que agradava ao telespectador jovem e repercutia na imprensa.
Entretenimento sem força - Nos bons tempos, o 'TV Fama' chegava a registrar média de 4 pontos. A mistura de reportagens com subcelebridades e fofocas sobre outras emissoras divertia o público. A fórmula se desgastou sem que o canal conseguisse dar novo fôlego à atração. Hoje, tem audiência baixa e não consegue a necessária participação das redes sociais para impulsionar o conteúdo da TV. Neste segmento, o que ainda funciona é o 'A Tarde é Sua', de Sonia Abrão, que frequentemente marca a maior audiência do dia na emissora.
O 'trash' não atrai mais - A RedeTV! sempre foi um canal popular. Nunca teve pudor em apelar para conseguir preciosos pontos no Ibope. Os programas comandados por João Kléber, por exemplo, faziam sucesso com situações pouco autênticas e intencionalmente jocosas. Brincavam com a cara do telespectador. Como esquecer as encenações do 'Teste de Fidelidade' e as pegadinhas grotescas? Com o tempo, o conteúdo 'trash' deixou de atrair público.
Força dos concorrentes - Além de sofrer ao não conseguir se renovar, a RedeTV! vê o avanço dos canais rivais. A Band, com quem já disputou décimo a décimo, acertou com o jornalismo do 'Bora Brasil' nas manhãs, a faixa da análise esportiva na hora do almoço e produções noturnas a exemplo do 'Faustão'. Em ascensão após vários anos inerte, a TV Brasil oferece robusto jornalismo ao vivo, documentários interessantes, festivais de filmes e atrações de sucesso compradas de outras emissoras, como a série infantil 'Detetives do Prédio Azul' (Gloob), além novelas, como a clássica 'Os Imigrantes' (Band).
Falta à RedeTV!, que completa 23 anos no dia 15, a ousadia que marcou sua primeira década. Apesar do atual revés no Ibope, a emissora está com boa saúde financeira segundo informações passadas ao Sala de TV.
O departamento comercial liderado por Marcelo de Carvalho tem fechado negociações milionárias que permitem deixar os pagamentos em dia. Tomara que haja dinheiro para investir em uma programação mais atrativa em 2023.
Nos últimos 4 anos, o canal de Osasco teve a imagem associada ao bolsonarismo em razão do apoio enérgico de Carvalho ao atual presidente. Com a vitória de Lula, poderá acontecer uma salutar despolitização da emissora.
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