Coadjuvantes com péssimos maridos entregam a emoção que falta nas protagonistas
Dhu, Fátima e Diana vivem problemas comuns a milhões de brasileiras e suscitam a torcida do telespectador por finais felizes
Chegando ao capítulo 50, o núcleo central de ‘Mania de Você’ gira em círculos. A trama de mentiras entre Mavi (Chay Suede), Luma (Agatha Moreira), Viola (Gabz) e Rudá (Nicolas Prattes) se arrasta com reviravoltas que não empolgam o público. Falta paixão convincente.
Enquanto isso, alguns coadjuvantes começam a ganhar merecido destaque. O trio de mulheres com maridos abusivos se mostra capaz de tirar o telespectador da letargia e fazê-lo sentir empatia. Elas são humanizadas e verossímeis enquanto Luma e Agatha parecem viver numa bolha sem conexão com o mundo real.
Vítima de marido mulherengo, filha preguiçosa e filho que sente vergonha dela, a vendedora de doces Dhu (Ivy Souza) se libertou da família exploradora com a ajuda das ricas Fátima (Mariana Santos) e Diana (Vanessa Bueno).
Pode parecer romantizado duas brancas de classe alta mobilizadas para ajudar uma negra pobre, mas é bonito ver a solidariedade entre as amigas, baseada no sentimento que as três conhecem bem: a opressão conjugal.
Neste caso, o ‘ninguém solta a mão de ninguém’ gera a identificação emocional que as protagonistas blasés não entregam. Milhões de telespectadores certamente se veem nas situações: a mulher rejeitada pelo marido na cama, ou aquela que o vê trazer uma amante para dentro de casa, ou ainda sendo obrigada a trocar de roupa para ficar menos sensual.
O autor João Emanuel Carneiro e sua equipe acertam ao ampliar o espaço de Dhu, Fátima e Diana nos roteiros de ‘Mania de Você’. Com firmeza e carisma, as atrizes honram o drama de suas personagens e há boa química no trio. Quanto estão juntas parece até outra novela – bem mais interessante.
Seus antagonistas Edmilson (Érico Brás), Robson (Eriberto Leão) e Hugo (Danilo Grangheia) representam o machismo, o egocentrismo, a vaidade tóxica, a violência psicológica e outras desgraças impostas por maridos que precisam reafirmar a masculinidade a todo momento. Mais atuais, impossível.