Com tantos bons profissionais pulando fora, a Globo vai afundar?
Canal perde nomes importantes do jornalismo e cresce a impressão de viver uma crise de talentos
Marcos Uchôa pediu para sair. Depois, André Hernan. Recentemente, Casagrande foi embora. Um dia depois, Petkovic. Galvão deve dar adeus logo após a Copa do Catar.
Antes deles, também da cobertura esportiva, saíram Nadine Basttos, Carlos Cereto, Bob Faria, Linhares Júnior, Rodrigo Raposo, Arnaldo Ribeiro, entre outros.
Se formos aos telejornais, contabilizaremos a despedida de Chico Pinheiro, Carlos Tramontina, Michelle Barros, Elaine Bast, Isabella Assumpção... a lista é longa.
Por saída voluntária ou não, vários talentos relevantes deixaram a Globo e suscitaram alguns questionamentos pertinentes. Vamos focar em dois deles.
O primeiro: a Globo passou a demitir tantos profissionais importantes e negociar amigavelmente a saída de tantos outros por estar em crise financeira?
A resposta é “não”, ou melhor, “não é bem isso”. O canal está sim obstinado em reduzir os custos da folha de pagamento. Aliás, mais dispensas estão por vir.
Trata-se de uma profunda reestruturação com o objetivo de deixar o elenco mais enxuto (e ampliar a produtividade de quem fica), além de aumentar o lucro líquido da empresa.
De 14 mil colaboradores, entre funcionários CLT (com carteira assinada) e PJ (contratados como Pessoa Jurídica), a emissora deve chegar aos 10 mil após finalizar a reorganização.
Não falta dinheiro à Globo. No início do ano, tinha R$ 15 bilhões em caixa, registrou lucro no primeiro trimestre e antecipou a rolagem das maiores dívidas em dólar a vencer nos próximos anos.
Definitivamente, o canal não corre o risco de falência nem faltam recursos para pagar os altos salários de apresentadores, locutores, repórteres e comentaristas.
Mas o crescimento das despesas de operações e o imprescindível investimento em tecnologia a fim de enfrentar a concorrência (especialmente no streaming), exige que a TV gaste menos para sobrar mais dinheiro.
O segundo questionamento está relacionado com a perda de talentos tão admirados pelo telespectador. Por que a Globo mandou embora tanta gente boa e não fez nada quando outros profissionais excelentes se demitiram?
Se antes a emissora cobriria qualquer oferta para manter jornalistas considerados essenciais, hoje não pensa mais assim. Segue uma regra defendida pelo fundador Roberto Marinho (1904-2003): “Ninguém é insubstituível”. Quer sair? Ok, beijinho, beijinho e tchau, tchau.
A emissora não quer ser refém de ninguém. Todos os postos-chave terão sucessores preparados para o caso de uma substituição temporária ou definitiva dos titulares.
De William Bonner a Ana Maria Braga, os ‘medalhões’ não podem ser mais importantes do que a própria Globo, pensam poderosos executivos da TV líder em audiência.
Em uma avaliação inicial, a saída de profissionais queridos pelo público e profundamente identificados com o jornalismo da casa não prejudicou a imagem da emissora no mercado publicitário nem teve reflexo negativo na audiência.
Mesmo sem eles, a Globo vai muito bem, obrigado.