Comentarista de TV ironiza aparência física de técnico e recebe resposta exemplar
Caso de flagrante gordofobia envolveu Guto Ferreira, do Goiás, alvo anteriormente da mesma discriminação por seu peso
Um episódio lamentável ocorreu no Campeonato Goiano de futebol. No dia 15, o comentarista Lucas Nogueira, da TV Brasil Central (TBC), debochou de característica física de Guto Ferreira, técnico do Goiás Esporte Clube, na cobertura da partida contra o Atlético-GO.
“Gente, nós temos um microfone aqui que chama lapela. No Guto não dá pra colocar lapela nele, não. Não tem pescoço, não tem uma divisória aqui (aponta abaixo do queixo). Precisa cuidar disso”, disse, em tom de deboche.
Foi gerada na tela uma imagem de arquivo de Guto Ferreira. “Olha lá, dá pra colocar lapela aí, dá?”, disse Lucas, reforçando o sarcasmo com a papada do técnico. A apresentadora Thaís Freitas gargalhou e o comentarista Jean Lopes questionou se Guto estaria “comendo muita pamonha”.
O comandante do Goiás tomou conhecimento da zoação a respeito de seu corpo e se posicionou em uma entrevista neste domingo (22).
“A atitude da equipe ‘Brasil Central’, na pessoa do Lucas, foi lamentável e perigosa. Pra mim, não tem problema nenhum. Sou um cara ‘cabeça feita’. Mas ele tem de ter responsabilidade com o que fala”, disse, visivelmente constrangido.
“O ‘Brasil Central’ atinge muitos e muitos espectadores no estado e no Brasil. São crianças que estão vendo e achando graça. Endossando amanhã fazer esse mesmo tipo de situação que se chama bullying entre eles. Eu tenho cabeça para suportar tamanha humilhação. Será que um garoto tem? Todo mundo sabe o que o bullying provoca.”
Na coletiva de imprensa, após o jogo, Guto Ferreira usou microfone lapela em protesto à chacota com seu sobrepeso.
A diretoria do Goiás Esporte Clube divulgou uma nota de repúdio. “É inadmissível que, em pleno 2023, ainda aconteçam casos como esse, de pessoas aprovando e achando graça de ofensas preconceituosas em relação à condição física de seu semelhante. O respeito é fundamental e deve nortear todas as relações. O preconceito, de qualquer natureza, é inconcebível, inaceitável e não será tolerado por nós”, diz trecho.
Diante da repercussão negativa nas redes sociais e na imprensa contra ele e a emissora onde trabalha, Lucas Nogueira gravou um vídeo de retratação postado após o alerta do técnico contra o risco da prática do bullying.
“Peço desculpas à torcida esmeraldina e principalmente ao técnico Guto Ferreira pelo comentário infeliz que realizei na transmissão. Sei que errei. Fiz um comentário que soou preconceituoso. Mas, neste momento, estou aqui pra pedir desculpas a todos vocês... Prometo que isso não irá se repetir.”
Nascido em Piracicaba (SP), Guto Ferreira, de 57 anos, já treinou mais de 20 times. Entre eles, Ceará, Sport, Bahia, Chapecoense, Ponte Preta e Internacional, onde ganhou títulos.
Não é a primeira vez que ele enfrenta gordofobia. Em 2016, quando dirigia o Bahia, um jornalista o apelidou de Gordiola, em referência ao técnico espanhol Gardiola, destacando de maneira pejorativa o seu sobrepeso.
@marciohawk No Campeonato goiano o técnico Guto Ferreira foi vitima de preconceito e hoje ele deu a resposta. 🙏🥺 #futebolbrasileiro #futebol #gutoferreira #bullyngstop ♬ Ambient-style emotional piano - MoppySound
@marciohawk Respondendo a @muriloleal88 ♬ som original - Marcio Hawk