Como a Globo agiu para salvar novela após morte de Daniella Perez
Emissora precisou tomar decisões rápidas em relação à produção que se tornou ‘proibida’
Em 28 de dezembro de 1992, uma segunda-feira, foi ao ar o capítulo 127 de De Corpo e Alma. A novela das 21h da Globo, escrita por Gloria Perez, era um sucesso de audiência.
Daniella Perez, filha da autora, atingia o ápice da popularidade com a personagem Yasmin, uma moça batalhadora em busca do amor. Seu tema musical, Wishing on a Star, era o mais pedido nas rádios.
Naquela noite, a atriz de 22 anos foi assassinada a punhaladas por Guilherme de Pádua, que interpretava seu par romântico Bira na trama, e a mulher dele, Paula Thomaz. O crime chocou o Brasil e teve repercussão na imprensa estrangeira.
A Globo precisou administrar várias questões. Em choque, parte do elenco pediu o fim imediato da novela. Outros atores insistiram na continuidade da produção, até em homenagem a Daniella.
A cúpula do canal deixou a decisão para Gloria Perez. Ela não quis encerrar a produção. No velório, disse a amigos que “continuar a trabalhar seria uma maneira de não morrer com a filha”, de acordo com o relato do diretor Daniel Filho.
Gilberto Braga, Ana Maria Moretzsohn e Leonor Bassères revisaram cerca de 20 capítulos de De Corpo e Alma e criaram um final para Yasmin.
A personagem foi estudar dança no exterior. A cena de despedida da família, no aeroporto, foi gravada com uma dublê. O cobrador de ônibus Bira simplesmente deixou de aparecer.
Mesmo corroída pelo luto, Gloria Perez voltou a escrever uma semana após enterrar a filha. Em busca de justiça, ela inseriu na trama dois assuntos importantes relacionados ao crime: a morosidade da Justiça e a inadequação do Código Penal.
De Corpo e Alma seguiu até 5 de março de 1993. Os 185 capítulos renderam média de audiência de 52.7 pontos, uma das maiores entre os folhetins da década de 1990.
Por um pedido da autora, a novela jamais foi reprisada no Vale a Pena Ver de Novo nem no Canal Viva. Em Portugal, houve uma exibição em 1996 na SIC, emissora parceira da Globo.
Trinta anos depois, a curiosidade em relação a Daniella Perez e seu fim trágico ressurgiu com a estreia de uma série documental a respeito do crime na HBO Max.