Cura de gagueira em novela da Globo gera crítica
Personagem de Carol Duarte em 'O Sétimo Guardião' volta a falar normalmente depois de ser estrangulada
O Conselho Federal de Fonoaudiologia e o Conselho Regional da classe de São Paulo (CREFONO) emitiram nota de repúdio nesta segunda-feira, 26, contra uma cena da novela O Sétimo Guardião, da Globo, exibida no sábado, 24.
Nos trechos, a personagem Stefânia (Carol Duarte), que possui gagueira, é vítima de violência por parte de Sampaio (Marcelo Novais), que a estrangula para forçá-la a falar sobre o interesse dela em uma marca que ele teria no corpo.
Após o episódio, ela sai do quarto tossindo e, ao conversar com Adamastor (Theodoro Cochrane), ele percebe que a garota já não está mais gaga.
Depois, Stefânia vai conversar com Ondina (Ana Beatriz Nogueira) sobre o caso e a cafetina diz: "Ficou tão apavorada, que ficou boa da gagueira. Reza para essa gagueira não voltar".
Em nota, o CREFONO disse que a novela tratou a gagueira de forma "perversa". "A cena retratada é de uma irresponsabilidade que não pode ser justificada sob o argumento de ser uma 'obra de ficção'. O resultado do estrangulamento apresentado pela novela não só atribui um sentido positivo ao crime de agressão, como também reforça fundamentos não científicos e expõe as pessoas com gagueira a graves situações de violência que, eventualmente, já podem ser vivenciadas no seu cotidiano", afirma o texto publicado no Facebook e no site da instituição.
Em seu site oficial, o Conselho Federal de Fonoaudiologia, em nome da presidente Thelma Costa, diz que "apesar de sabermos que a obra é ficcional, a cena veiculada é bastante equivocada e desrespeita, de maneira irresponsável, os sujeitos que apresentam gagueira", que no Brasil representam 5% da população.
"Usualmente, pessoas que gaguejam apresentam dificuldade em suas relações sociais, comprometendo seu desempenho escolar e/ou profissional. A gagueira tem tratamento e se feito de forma competente apresenta resultados extremamente promissores, minimizando danos emocionais e sociais. Nesse sentido, afirmamos: não se cura gagueira com susto ou violência e muito menos com agressão", acrescenta a nota.
O E+ enviou para a Globo um pedido de posicionamento sobre o caso, mas, até a publicação desta nota, ainda não tinha obtido retorno. Assim que receber uma resposta, o texto será atualizado.
Leia abaixo, na íntegra, a nota do Conselho Federal de Fonoaudiologia:
"O Conselho Federal de Fonoaudiologia repudia qualquer forma de violência. Flagramos no dia 24 de novembro uma cena da novela "O sétimo guardião" em que uma personagem "Stefania" que apresenta gagueira, após sofrer violência por meio de estrangulamento é "curada". Apesar de sabermos que a obra é ficcional a cena veiculada é bastante equivocada e desrespeita, de maneira irresponsável os sujeitos que apresentam gagueira.
A gagueira é considerada pela ciência como distúrbio ou transtorno de fluência da fala, que acomete pessoas, independentemente, de raça, nível sociocultural e grau de escolaridade. Acomete em torno de 5% da população brasileira, ou seja, cerca de 10 milhões de brasileiros. Usualmente, pessoas que gaguejam apresentam dificuldade em suas relações sociais, comprometendo seu desempenho escolar e/ou profissional. A gagueira TEM tratamento e se feito de forma competente apresenta resultados extremamente promissores, minimizando danos emocionais e sociais. Nesse sentido, afirmamos: não se cura gagueira com susto ou violência e muito menos com agressão!!. Abordar o assunto desse modo, além de desrespeitoso é banalizar diversos sofrimentos, é perpetuar uma crença equivocada e nociva à sociedade. Além disso, incitar a violência para com aqueles que apresentam algum tipo de distúrbio, deficiência, ou "diferença" é uma forma perversa de preconceito! Na verdade é uma irresponsabilidade! Reproduzimos parte da nota oficial da Associação brasileira de Gagueira sobre o assunto: "A sociedade brasileira carece de um correto esclarecimento a respeito da gagueira, suas causas, impactos na vida da pessoa que gagueja e, principalmente, a necessidade de uma correta avaliação, diagnóstico e tratamento fonoaudiológico especializado em Fluência. Quando a personagem pessoa que gagueja "se cura" da sua gagueira a partir de uma violência, incentivamos na sociedade a ideia de que o susto e práticas violentas como a surra ou o "bater na cabeça com colher de pau" são práticas aceitáveis". Desta forma o Conselho Federal de Fonoaudiologia repudia qualquer desrespeito e incitamento à violência para com o diferente. GAGUEIRA NÃO TEM GRAÇA, TEM TRATAMENTO!!
Dra. Thelma Costa
Presidente"
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