De dono bolsonarista, CNN vira inimigo Nº 2 do presidente
Emissora tem âncoras tão liberais e críticos quanto os da concorrente GloboNews
Criada pelo jornalista Douglas Tavolaro, ligado à cúpula da Igreja Universal do bispo Edir Macedo, em sociedade com o empresário bilionário bolsonarista Rubens Menin, CNN Brasil é, hoje, comandada por Renata Afonso, casada com outra mulher, sensível às pautas das minorias e defensora da diversidade em todos os aspectos sociais.
A desconfiança inicial em relação à emissora, lançada em março de 2020, logo se dissipou. Não se trata, definitivamente, da versão nacional da conservadora Fox News, canal com papel crucial na promoção e defesa da direita e do conservadorismo ao longo dos quatro anos da Presidência de Donald Trump nos Estados Unidos.
Quem, antes, via a CNN Brasil como possível aliada de Jair Bolsonaro se surpreendeu com o tom crítico ao presidente. Está mais próxima da CNN norte-americana: antirreacionária e progressista. Ex-diretora de uma afiliada da Globo, a nova CEO sinaliza a intenção de total imparcialidade. No confuso espectro político brasileiro, a emissora seria de centro, distante dos radicalismos e da idiossincrasia da direita e da esquerda.
Alguns de seus âncoras não poupam comentários contundentes contra Bolsonaro. Entre eles, William Waack, do ‘Jornal da CNN’, um especialista em política e relações internacionais. No ‘CNN Novo Dia’, Rafael Colombo já protagonizou vários embates — alguns com ruidosa repercussão na mídia — com o comentarista pró-Bolsonaro Alexandre Garcia.
Nos últimos dias, outra jornalista do canal, Daniela Lima, se tornou alvo de ataques virtuais por quem a vê como antibolsonarista em razão de seus posicionamentos diante das câmeras. Xingada de “quadrúpede” pelo próprio presidente da República, ela foi defendida pela direção da CNN Brasil. Em nota, a empresa disse repudiar “com veemência as ofensas e insinuações” de Bolsonaro e reafirmou a defesa da “liberdade de imprensa” em relação a seus contratados.
Se a Globo e a GloboNews são o inimigo Nº 1 do presidente, nas palavras dele mesmo, ditas em conversa com o então ministro Gustavo Bebianno, a CNN Brasil assume o segundo lugar nesse peculiar ranking. Seu jornalismo aparentemente dissociado de interesses político-ideológicos — com espaço relevante inclusive para o pensamento de direita — faz bem para a imagem e a credibilidade da marca.
Tomara que Rubens Menin, agora dono de 100% da TV, continue a manter distância saudável entre seu apoio ao governo e a atuação da emissora. Pela qualidade editorial e os talentos de seu elenco, a CNN Brasil tem chance real de se igualar à GloboNews em audiência e importância.