Débora Falabella fala sobre personagem com transtorno
No ar com a série 'Dupla Indentidade', atriz contou quais foram as dificuldades para criar o papel de Ray
Os traços finos e o ar jovial poderiam ter limitado Débora Falabella ao posto de mocinha de novela. Ela, inclusive, até deu vida a românticas incorruptíveis em tramas como Sinhá Moça e Duas Caras. No entanto, é nas personagens intensas e cheias de complexidades, como a Ray de Dupla Identidade, que a atriz se encontra. "Sou estudiosa, dedicada, surge uma personagem dessas e eu já fico eufórica", conta.
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Na série escrita por Glória Perez, Ray é a inocente namorada do serial killer Edu, de Bruno Gagliasso. Imatura e muito dependente, ela acaba sendo facilmente manipulada pelo criminoso. "Ray é muito insegura. Alterna momentos de agressividade com pura ingenuidade. Faz de tudo para não perder aquele amor, sem nem ao menos conhecer ele direito", analisa.
Mineira de Belo Horizonte, aos 35 anos, Débora já guarda alguns sucessos na carreira, como O Clone e Avenida Brasil. Sempre querendo aliar repercussão popular com prestígio artístico, aos poucos, conseguiu conquistar uma invejável relação com a direção da Globo. Tanto que pôde escolher não fazer a próxima novela das sete, Alto Astral, para estar em Dupla Identidade. "É bacana saber que posso cumprir um contrato fazendo o que acho que é o melhor para mim no momento", valoriza.
Terra - Você estava fora do ar desde que deu vida a Nina, protagonista de Avenida Brasil, de 2012. O que a fez acertar sua participação em Dupla Identidade?
Eu já queria voltar aos estúdios e alguns convites estavam surgindo. É ótimo voltar a trabalhar. Ainda mais em um projeto tão diferente do que fiz em Avenida Brasil. Acho que isso me deu uma motivação extra para estar em cena novamente. Fora que é um produto muito diferente até do que a televisão brasileira está acostumada. Quando recebi o convite da Glória (Perez), fiquei muito entusiasmada pela história, pela fragilidade e pelas complexidades da personagem.
Terra - Como assim?
Ela vive de forma muito emocional. É uma mulher que tem de cuidar sozinha da filha, conhece um homem "do nada" e já enxerga nele o príncipe encantado. Ray tem Síndrome de Borderline, um transtorno de personalidade que a deixa imersa em um caldeirão de emoções, em busca de uma identidade que só se realiza na ligação afetiva com o outro, seja um amor, seja uma amizade. Ela precisa do outro para sentir que está existindo.
Terra - Como foi o processo de preparação para um tipo tão específico?
Acho que muitas mulheres vivem dessa forma sem saber. Procurei e me indicaram a ajuda de pessoas que sofrem deste transtorno. É muito difícil tender sempre a andar "no limite" do sofrimento, a problematizar ainda mais as coisas. Achei muito inventivo o jeito com que a personagem entra nessa trama de assassinatos. Passamos por um período forte de ensaios, de convivência entre os atores. O que falta de emoção no "serial killer" feito pelo Bruno (Gagliasso), sobra na Ray. É um casal bem interessante (risos). Faltava uma produção desse tipo na tevê nacional.
Terra - Por quê?
Porque é uma série muito bem escrita, que tem tudo para envolver o público. Já fiz muitas cenas de suspense, mas ainda não tinha trabalhado esse tipo de texto de forma tão abrangente em uma mesma produção. Ela é levada por sua carência, corre o maior perigo ao estar próximo de um assassino e é totalmente manipulada por ele. É preciso trabalhar o que está no roteiro e o que está implícito. É bem legal atuar sob esse contexto. Isso só comprova minha confiança no texto da Glória. Só trabalhei uma vez com ela, mas foi um dos trabalhos mais fortes da minha carreira.
Terra - Você acha que a Mel de O Clone a colocou no caminho de personagens mais complexas?
Sem dúvida. Mel não foi só uma questão de atuação, ela invadiu o lado social. Discutir a temática das drogas com aquelas cenas fortes em horário nobre foi uma oportunidade única. A personagem me consumia por inteiro.