Demissão de âncora nos EUA lembra ação da Jovem Pan News após vitória de Lula
Jim Acosta paga o preço por ser um dos maiores desafetos de Donald Trump
A saída de Jim Acosta da CNN nos Estados Unidos, após 18 anos, mostra que o canal de notícias teme possível retaliação de Donald Trump. O jornalista de origem cubana era o crítico mais duro do republicano na emissora.
Com a volta do trumpismo à Casa Branca, a TV considerada progressista decidiu tirar o apresentador de Washington e mandá-lo para Los Angeles, onde passaria a atuar no começo da madrugada no horário da costa oeste, com menos audiência e visibilidade.
Seria uma mudança baseada em decisão editorial, segundo a direção da TV. Difícil acreditar. Fica explícita a intenção de afastar Acosta do centro do poder para evitar novos confrontos com Trump. Percebendo a operação para enfraquecer sua voz, o veterano pediu demissão.
A CNN está em situação delicada no ranking de audiência. Em 2024, teve média de 685 mil telespectadores no horário nobre, enquanto o canal pró-Trump Fox News conseguiu 2,3 milhões (quase quatro vezes mais público), conforme dados do portal Deadline com números da empresa de pesquisa Nielsen.
A tentativa de abafar Jim Acosta para não desagradar ao novo presidente norte-americano remete a uma situação parecida no Brasil depois de Lula vencer a eleição no fim de 2022.
Alinhada a Jair Bolsonaro e com amplo espaço para o discurso da extrema direita, a Jovem Pan News fez uma alteração de rota. Demitiu a maioria dos âncoras e comentaristas vistos como bolsonaristas. Hoje, suas críticas ao petista são mais suaves do que as da GloboNews.
É comum que trocas de governo – e, principalmente, de corrente ideológica no poder – gerem reposicionamento de alguns canais. Afinal, em 1º lugar está a sobrevivência do negócio. A militância no jornalismo pode custar caro.
No Brasil, algumas emissoras contam com as verbas publicitárias da Presidência e dos ministérios para pagar as contas. Tanto é que a própria Jovem Pan reclamou no ar, seis meses após o início do mandato de Lula, da não “contratação de publicidade do governo federal” em suas plataformas, no rádio e na TV. O ruído fez efeito: os veículos do grupo receberam, segundo a ‘Folha’, R$ 2,3 milhões vindos de Brasília em 2024.
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