Demissões no jornalismo da Globo deixam 'recados' a quem continua no canal
A saída de profissionais renomados gera clima de insegurança e estimula os remanescentes a refletir sobre o preço a pagar pelo cargo
O longo processo de reestruturação financeira associado à intenção de renovar as redações fez a cúpula da Globo dispensar parte dos 'medalhões' de seu jornalismo.
Algumas demissões, em comum acordo ou não, tiveram maior simbolismo pela mensagem enviada aos que permanecem no canal, seja nas bancadas ou na reportagem de rua.
A idade conta - Em 2022, vários veteranos deixaram a emissora. Entre eles, Carlos Tramontina, 66 anos, e Chico Pinheiro, 69. Houve um rejuvenescimento no comando de telejornais. A maioria dos repórteres acima dos 60 anos, alguns com até quatro décadas de casa (Neide Duarte e Fernando Rêgo Barros são exemplos), também perderam o emprego. Além da questão etária, os altos salários pesaram na hora de determinar quem fica e quem sai.
Politização desaprovada - A saída de Chico, um dos apresentadores mais queridos da emissora, teve diferentes motivos. Um deles foi seu ativismo político no Twitter. Declaradamente de esquerda e apoiador de Lula, ele desagradava aos chefes com posts críticos a Jair Bolsonaro e à extrema-direita em ano eleitoral. O canal exige imparcialidade de seus contratados. Após ele sair do ar, alguns colegas pararam de se manifestar politicamente.
Bem-estar em primeiro lugar - A recente demissão voluntária de Christiane Pelajo, da GloboNews, se somou à de outros colegas de empresa (Mauro Aurélio Souza, Michelle Barros, Elaine Bast, entre outros) que saíram para ter mais qualidade de vida. O jornalismo ao vivo impõe uma rotina estressante, com muitas cobranças e frustrações. O bom salário pode não compensar o dano à saúde mental. Abrir mão do cobiçado crachá da Globo exige desprendimento. Cada vez mais profissionais tomam essa atitude a fim de se preservar. Trocam o status por uma vida mais calma.